Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 27 de outubro de 2012

Liberal


Ao fim de quase uma década de combate firme pela liberdade e pela democracia, Liberal fecha portas no último dia deste mês. Não porque tenhamos cumprido integralmente a nossa tarefa, não porque nos tenhamos desinteressado deste projecto editorial e da luta sagrada pela liberdade de imprensa. Ou, muito menos, porque achemos que Liberal deixou de ter espaço ou de fazer sentido. Pelo contrário, o jornal ampliou o seu espaço, fez e faz cada vez mais sentido. Liberal é, sem margens para dúvidas, a voz dos que sem ele jamais teriam voz.

Também não se trata de termos sido acometidos por qualquer temor, ou que as tentativas de intimidação e condicionamento dos nossos inimigos tenham abalado minimamente as nossas convicções e frontalidade. Não, pelo contrário, a morte do Liberal ocorre por responsabilidade directa de alguns dos nossos melhores amigos que, ao mesmo tempo que nos dizem fazermos muita falta, contudo nos “asfixiam” não pagando o que nos devem.

Atingimos o limite, já não temos dinheiro para aguentar este barco porque os que nos devem não se dignam pagar-nos. Foi um sonho lindo que chegou ao fim, trazendo à tona uma realidade com que não contávamos. É certo que dos nossos amigos e dos democratas não esperávamos favores. Mas esperávamos colaboração.

Dos nossos inimigos não esperávamos facilidades. E tinham eles razões de sobra para nos perseguirem… como o fizeram ao longo de todos estes anos. Afinal fomos nós que denunciamos os seus truques e as suas trafulhices. Fomos nós que, utilizando uma linguagem terra a terra, estragamos-lhes a festa. Denunciamos os seus nepotismos, os seus roubos, as suas canalhices, as suas mentiras, as suas fraudes, as suas utilizações de bens públicos para proveito próprio ou de amigas… Denunciamos as suas incompetências, os grandes negócios de terrenos, os favores aos amigos, os envolvimentos em actos corruptos, as delapidações da coisa pública, as negociatas com estrangeiros, a utilização dos dinheiros públicos em campanhas eleitorais e em associações amigas… Denunciamos, denunciamos, denunciamos…

No início de Agosto fizemos circular uma carta apelando à solidariedade de pessoas que sabíamos, querendo, nos poderiam ajudar. Novo role de palmadas nas costas, garantias de que o Liberal não iria fechar e promessas de ajuda logo a seguir. Continuamos à espera!

Os democratas, na prática, parecem não considerar importante uma voz consequente que se bata pela democracia, pelo pluralismo e pela liberdade. E quem somos nós para contrariar essa corrente? Da nossa parte tudo fizemos, mesmo quando parecia impossível. Mas há limites intransponíveis. Como diz o poeta, atingimos o zero.

Portanto, caros amigos, a não ser que aconteça um milagre para acorrer a necessidades prementes, Liberal vai deixar de estar online a partir das zero horas de 1 de Novembro, ironicamente, Dia de Todos os Santos.

E é pena que, por tão pouco, se cale uma voz que pugna pela liberdade, pelo pluralismo, pela verdade contra a corrupção, contra o nepotismo, contra a mentira, contra a propaganda…

Quando um jornal morre, quando se cala uma voz insubmissa, a liberdade de imprensa fica mais pobre e mais frágil a democracia. Liberal chega ao fim, mas a luta pela liberdade e pela democracia continua por outros meios, com certeza. Redacção Liberal – Cabo Verde

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