Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 1 de dezembro de 2012

Castelhano

“Hoje recebi um correio, um desses correios de grupo, coletivos, que ao começá-lo a ler deu-me vontade de chorar, tive que deter a leitura, mesmo sendo um texto brevíssimo, senti como me vencia. A violência linguística me rompe, me desarticula. O maltratador instalou em mim mecanismos que se ativam e eu me afundo, afogo-me em meu próprio desejo de existir ao chocar contra a minha impotência. Oxalá pudesse gritar, pedir a um juiz uma ordem de afastamento, algo para me proteger dessas atitudes ferozes. Não há auto-estima que resista viva logo de tanta violência. É por isso que os falantes se 'auto-apagam', é por isso que os galegos 'vão calando'. Hoje quando comecei a ler a tal carta na que se denunciava um ataque desses por usar a nossa língua no nosso pais, não consegui ler, como já disse, fugi das cruéis palavras; mas depois revi, porque tenho que denunciar ali onde a minha palavra seja entendida. Necessito achar paz, remédio, cura. Necessito abrir a gaiola do peito, permitir aos pássaros do meu jardim, condenado à escuridão e às sombras, voarem. Necessito luz para dar cor as minhas rosas. Ilumino os olhos lembrando algum verso de Rosalia, e tento terminar de ler a mensagem:

[Um aluno pede informação dos cursos de inglês na academia "SPEAK ENGLISH CALHAN" Com centros em Corunha e Oleiros. Naturalmente fez isso na nossa língua; usando a ortografia que meu marido chama de 'popular', eu chamo 'ILGA-RAG' e um amigo meu chama de 'ortografia mutilada'. Como quer que fosse, ele o moço pedia informação sobre o funcionamento e todas essas questões que em inglês se podem denominar 'marching orders'. Mas para surpresa do moço a resposta que recebe nada tem a ver com o que ele perguntara, em vez de resposta ele recebe porrada... Me fez voltar à escola da infância. A mensagem dizia mais um menos assim:

"por respeto y educación básica (...) dirígete a nosotros en español o inglés siendo ésta una empresa internacional (...) "; "el idioma internacional de España es el español"; "Este no es un centro de política regional".]

Devia parar por aqui, essa mensagem diz tudo. Mas me pergunto como depois não querem que a gente seja independentista?! Se em Espanha só há lugar para o 'Espanhol' deveriam-se alegrar ao ver que os 'não espanholizados' queiram se ir do seu lado (como andam a pensar os catalães nestes dias...). Mas não, isso não parece que seja suficiente. Como nos casos de violência de género, que tão bem eu conheço por ser matéria da minha especialidade psicoterapêutica, o maltratador depois de tentar submeter a vítima durante o tempo todo, depois de causar nela imensa destruição, prefere antes matá-la do que deixá-la ir....

Bom, eu com esse tipo de ataques, que vão à essência do ser, não posso, reconheço meu limite. Acontecimentos como esse que lhe passou a um moço galego, eu não posso; ele parece que resistiu bem e teve a valentia de o contar. Talvez por ele ter crescido numa época na que as humilhações por falar a nossa língua não tenham sido tão brutais ou óbvias, como na minha. Com o passar do tempo até os bárbaros evoluem, aperfeiçoam seus métodos. Mesmo assim, em mim tem o mesmo efeito, ainda sendo eu pessoa forte, a mim me afundem. Seguimos sendo maltratados, humilhados, tanto, depois de tantos séculos, que nem somos conscientes do quanto...”  Concha Rousia – Galiza in “Portal Galego da Língua”

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