Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Orgulhosamente...



                            Orgulhosamente sós
                                                                                                         
       Quando analisamos a corrente de comércio do Brasil  hoje,  talvez devêssemos começar por um balanço negativo. Ou seja, pensar no que deveríamos ter feito, no que fizemos e, principalmente, no que deixamos de fazer. Só assim poderemos chegar ao que devemos fazer, se é que queremos melhorar a nossa participação no comércio mundial.

             De pronto, o que se conclui é que perdemos muito tempo, ao deixarmos de assinar acordos de livre comércio com outras nações e blocos. Há mais de 300 acordos em vigor no planeta e o Brasil é signatário em menos de dez deles. Já o México e o Chile, países com os quais temos bom relacionamento comercial, fazem parte cada um de mais de 50 tratados.

            O resultado dessa escassez de acordos faz com que hoje tenhamos de esperar que haja um aumento nos preços das matérias-primas para que possamos sustentar a balança comercial. Quer dizer, temos de nos contentar em torcer para que a China continue a exportar cada vez mais produtos manufaturados, pois isso significa que precisará mais de nossas matérias-primas.

            Logo a China que, se constitui um grande mercado, é também um parceiro pouco confiável, pois não hesita em jogar pesado quando entra numa disputa comercial: sustenta o yuan desvalorizado, faz exportações por outros países, a chamada triangulação, oferece subsídios aos seus exportadores e mão de obra barata e aviltante, sem leis trabalhistas decentes. Com isso, arrasa, de passagem, alguns setores industriais brasileiros e de outros países.

            Foi o que ganhamos quando há nove anos o governo brasileiro optou por enterrar de vez a moribunda Área de Livre Comércio das Américas (Alca), idealizada por George W. Bush, presidente dos EUA, e aceita com certa timidez por Fernando Henrique Cardoso, então presidente do Brasil. É verdade que esses dois presidentes tiveram tempo de sobra para colocar a Alca em pé, num ponto em que um recuo fosse praticamente impossível, mas não o fizeram.

            E, como as negociações titubeavam, foi fácil ao novo governo brasileiro nascido das urnas em 2002 jogar tudo por terra, como se os EUA fossem nosso grande inimigo, tal como preconizava a antiga União Nacional dos Estudantes (UNE) nos idos de 1960. Com isso, o comércio Brasil-EUA despencou vertiginosamente, sendo reduzido a menos da metade do que fora na década de 1990.

            Já os chineses, que se dizem comunistas até  hoje, preferiram  olhar os EUA como eles são, isto é, o maior mercado consumidor do mundo. E trataram de vender cada vez mais para os EUA. O resultado pode ser constatado nestes números: em 1979, o Brasil exportou US$ 12,6 bilhões e a China, US$ 9,7 bilhões. Já em 2011, o Brasil exportou US$ 256 bilhões e a China, US$ 1,9 trilhão. É preciso dizer mais?

            Mas não é só. Em 2011, as nossas importações dos EUA alcançaram o recorde de US$ 33,9 bilhões, enquanto as vendas brasileiras para o mercado norte-americano ficaram em US$ 25,8 bilhões. Com isso, os EUA garantiram um saldo favorável de US$ 8,1 bilhões, um dos raros superávits comerciais obtidos por aquele país com o resto do mundo.

            Em outras palavras: em  razão de uma visão ideológica ultrapassada e caolha, trocamos os EUA pela China. Só que hoje a China compra apenas produtos primários brasileiros, especialmente minério de ferro e soja, enquanto os EUA adquirem do Brasil produtos manufaturados de elevado conteúdo tecnológico, como aviões, além de pastas químicas, ferro-liga, petróleo em bruto e café em grão.

            Tivéssemos a Alca a pleno vapor, com certeza, estaríamos vendendo e comprando muito mais dos EUA. Sem contar o que continuamos a perder por não termos fechado acordos com a União Europeia, África do Sul, Índia, Rússia e outros tantos países e blocos. Como o Portugal do tempo de Salazar, corremos o risco de ficar orgulhosamente sós, contentando-nos com 1,3% de tudo o que se compra e vende no mundo. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.

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