Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Musicalmente


“Chico César define-se como artista militante e a sensibilidade político-social dele emerge em cada conversa, em cada cançom. É natural, ele nom nasceu rico, como a maior parte dos artistas brasileiros que conhecemos, e só com oito anos já conseguiu o primeiro emprego num dos estados mais pequenos do Brasil, a Paraíba, ainda que já se saiba que quem di pequeno no Brasil quer dizer de tamanho médio deste lado do Atlántico: ocupa tanto como duas Galizas. O seu êxito internacional chegou pola mao de temas que logo se tornárom verdadeiros hinos afroamericanos como ‘Mama África’ ou ‘Respeitem meus cabelos, brancos’. Na nossa terra, umha música composta por ele (‘Pensar em você’) tem soado mais na voz de Daniela Mercury ou de Uxía Senlle, com quem o Chico vinhera pola primeira vez à Galiza na ediçom inaugural de Cantos na Maré. A este festival voltou agora para comemorar o décimo aniversário do encontro lusófono. Desta vez compartilhou cartaz com o portuense Rui Veloso, o moçambicano Cheny Wa Gune e a galega Sés, mas estivo acompanhado por muitos outros músicos em Ponte Vedra: Dani Black (Brasil), Paulo Borges (Açores), Berg (Portugal), Sérgio Tannus (Brasil) ou a própria Uxía Senlle. Nós fomos buscá-lo à Casa das Crechas, onde já é tradicional que uns dias antes da festa se faga um encontro de artistas lusófonos. Falou-nos nom apenas como músico, também como político brasileiro, pois agora detém um cargo cultural no seu estado natal.

Como vias a Galiza primeiro e como vês agora que sabes dela?

Ao conhecer um lugar da Espanha que nom falava espanhol, que falava português, fiquei muito curioso e quando cheguei entendim: eles nom som espanhóis, som galegos. Tenhem umha língua: dançam nessa língua, cantam nessa língua, vivem nessa língua. Confirmou para mim que a Espanha é umha abstraçom autoritária e sentim-me mui próximo dos galegos, porque a língua que falam é umha língua muito próxima da língua que falam os velhos do interior falam, que meu pai fala: é umha língua que troca o jota pelo xis, por exemplo.

Para um artista com sensibilidade político-social como tu, a que continente achas que é preciso estarmos mais atentos?

É importante estarmos atentos à Europa. admitirmos que o capitalismo faliu, o capitalismo resultou mal, nom pode produzir tantas coisas inúteis para tanta gente útil. as pessoas precisam de coisas para o dia-a-dia e o capitalismo produz mercadorias e mais mercadorias. os trabalhadores nom possuem tanto como para comprar tanto produto e tu nom podes comprar todos os anos um automóvel, umha máquina de lavar, uns sapatos; nós nom precisamos disso. Precisamos de comer, amar, dormir e isso nom é o capitalismo; o capitalismo é só consumir. Entom, nós devemos olhar para a Europa e ver que isso deu errado: o capitalismo falhou.

Entre a socialdemocracia europeia, a evoluçom do Brasil goza de grande admiraçom. Tu achas que se está a tornar um país mais justo desde o governo de Lula?

Um pouco, mas precisa muito mais. Porém, os movimentos sociais nom podem entregar o seu destino a governos. devem apenas formatar cousas que já nom estám na rua, que já nom dá para serem seguradas por mais tempo. os movimentos sociais existem para conquistar novas cousas. o Brasil ainda nom fijo umha reforma agrária decente: muitos camponeses brasileiros vivem sem terra.

Antes comentaste-nos que o Brasil é um país muito autossuficiente musicalmente. Achas que a Lusofonia em geral e a Galiza em particular tenhem cabimento nesse continente musical?

Os ícones da música brasileira, Chico Buarque, Gilberto Gil... devem levar a lusofonia para o Brasil. Eles podem dizer: “a lusofonia é importante”, nom apenas como umha referência a um pouco de Cesárea Évora, um pouco de...

Como se chama esta cantora de fado portuguesa?

Amália Rodrigues. ...

um pouco de Amália. Nom! É importante levar Cabo verde e também a Guiné Bissau, mas nom só como umha idealizaçom, senom como algo concreto.

O que representa para ti a Cantos na Maré no âmbito da Lusofonia?

Cantos na Maré é a lusofonia tornada realidade: Moçambique, Cheny Wa Gune, Angola, Portugal, Rui veloso, a Galiza, Uxía, é a realidade do que se canta lusofonicamente no mundo, e isso interessa-me muito.” Eduardo Maragoto - Galiza in “Novas da Galiza”

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