Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 24 de março de 2013

Confluência


Márcio-André seria um artista multifacetado se nom tivessem surgido já alguns termos para englobar os intérpretes que as pessoas nom conseguem compartimentar. O mais comum é artista performativo, mas ele apresenta-se na sua página web como poeta sonoro, cinético e radioativo. Explicado às pessoas comuns, fai poesia em que a palavra nom é o único instrumento comunicativo implicado: a imagem ou os sons tenhem tanta importáncia como ela. O Márcio é brasileiro, onde participou na fundaçom da editora Confraria do Vento, um projeto concebido para novos escritores e escritoras que tem mui em conta as novas linguagens. Depois de ter passado uns anos em Lisboa, a sua digressom europeia trouxo-o à Galiza, onde participa em diversos projetos artísticos ao mesmo tempo que organiza ciclos de cinema brasileiro na Casa das Crechas.

Define-te como artista...

Isso é umha pergunta realmente difícil. Eu nom saberia respondê-la sem algumha culpa. Até uns anos atrás, eu dizia que era poeta, porque tinha lançado livros de poesia e porque freqüentava festivais desse tipo de cousa. Depois, com o estudo da performance e com a exploraçom dos métodos multimídia de trabalhar a palavra, o corpo e o som, pensei: sou um poeta multimídia que trabalha com performance. Agora, estou experimentando fazer filmes e todo já começa a ficar confuso novamente. Será que umha definiçom é realmente necessária? A minha arte nom surge dos meios que utilizo. Essa cousa de definiçom é muito complicada. As definiçons mudam de acordo com o lugar e com o tempo, as obras, nom. Talvez eu pudesse dizer que sou um artista da palavra.

Do Brasil vinheste para Lisboa e acabaste em Compostela... achas que continuas na Lusofonia? O que te trouxo, primeiro a Portugal e depois à Galiza?

Bem, meus movimentos migratórios sempre tenhem a ver com as minhas paixons. Vim do Rio de Janeiro para Lisboa fugindo do amor por umha mulher. No caso da Galiza, a vinda tem a ver com minha esposa, Ana Gesto, que é umha artista compostelana. Mas, claro, as nossas escolhas, por mais desconexas, de alguma maneira cumprem um caminho que, depois de percorrido, parece ter sido o verdadeiro. É o que chamamos de “destino”. Entom, tenho pensado sim nessa ideia de que estou, nom propriamente na Lusofonia (que é um conceito e representa apenas umha das muitas formas de encarar a uniom das variantes do português), mas perseguindo, de maneira inversa, a expansom da minha língua até as origens. E isso é muito significativo por eu trabalhar com a palavra. É interessante, nesta trajetória, estar na convergência de todos os idiomas que componhem o meu idioma.

Nom és o único artista brasileiro que entra em contacto em Compostela com a cultura galega. O que te chama a atençom dela?

Na verdade, eu conheço muito pouco ainda. Vivo aqui há somente seis meses. Mas, a princípio, fascinam-me as tradiçons folclóricas. Elas remontam muito às raízes brasileiras, sobretudo na semelhança que a música tradicional galega tem com a música do nordeste do Brasil.

Dá a sensaçom que muitos artistas brasileiros passam uns anos na Europa para completar a sua carreira artística. Voltam mais reconhecidos para o Brasil?

Isso era algo muito comum no período do modernismo brasileiro. Foi algo que deve ter durado até os anos trinta, porque toda referência brasileira até entom estava na Europa, sobretudo na França. A moda voltou nos anos 60 e 70, mas aí era por exílio forçado pola ditadura militar. Hoje isso é mais raro. Nesse aspecto, o Brasil da segunda metade do Sec. XX sempre foi muito autocentrado, interessando-se mais em exportar do que em trocar (Veja o Concretismo, a Bossa Nova, etc). A Tropicália, apesar de seu “antropofagismo”, trazia bem pouco de fora, agregando o que popularmente vinha enquanto cultura de massa. No meu caso, eu represento outro tipo que nada tem a ver com isso.

O meu interesse nom é carreira ou formaçom, mas deformaçom. Eu sou o tipo nômade, sem casa, sem referência e, provavelmente, sem retorno. O meu país está aonde eu vou. Ainda que eu nunca deixe de estar em contato (através de projetos realizados à distáncia, performances remotas, viagens periódicas) e de me sentir brasileiro, nom pretendo voltar a viver no Brasil por enquanto – nom naquele que deixei atrás de mim. Pretendo voltar àquele que encontrarei adiante, de forma que quando retornar isso também será um seguir adiante. Eduardo Maragoto – Galiza in “Novas da Galiza”

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