Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 20 de julho de 2013

A Portugal

 
“Esta é a ditosa pátria minha amada”
Camões – Lusíadas
 
Destaca-se o passado. A nossa história
Tem páginas de luz: os vastos mares;
Tem nas lutas ingentes a victória
Nos combates estranhos, não vulgares;
Tem, sobretudo, a não mentida glória
Dos glandílocos factos seculares,
Abrindo ao mundo os largos mundos novos
Ligando as terras e estreitando os povos.
 
Sucedem-se os heróis no tempo antigo;
Ergue-se a pátria á voz d’altivos feitos;
Enquanto as armas batem o inimigo
E pulsão corações de satisfeitos;
No silêncio da noite, sem abrigo,
Caminha a grande tribo dos eleitos,
Não como aves que emigram. Como heróis
Buscando a luz de novos arrebóis.
 
Porque assim como se erguem os condores
A’ mor altura e a águia corta o espaço,
Assim também nós outros, vencedores
A quem nunca afrouxou o hercúleo braço,
Não como a abelha voa d'entre as flores
Porém a baila entre armaduras d'aço,
O mundo percorremos, como e quando
Fortes fomos a pátria celebrando.
 
Abriu-se á nossa frota o mar distante
E também as paragens gloriosas
D'outros povos que vimos no levante
Após o mar, em ondas procelosas!
Quando o mundo assombrado e suplicante
Viu aos céus levantando as mãos piedosas
Medirem-se em combates e em reveses
Dois gigantes: o mar e os portugueses!
 
Hoje, porém, ó doce pátria amada,
Vais no ocaso da vida, que declina,
Como um doente, olhando a madrugada
Sem ver a luz formosa e matutina!
Que te resta d'outrora? A sombra, o nada,
D'uma glória, que foi. Quase divina;
Que outro sangue te corre e que outra vida;
Que vencedora foste e vais vencida?
 
Pátria! Pátria! Relembra a tua história
E ergue-te á luz dos novos ideais!
Não te faltam exemplos, nem memória
De heróis num povo, que inda vale os mais;
Se é que há em nós a sede dessa glória,
Que estas praias banhou, ocidentais,
E que hoje se traduz num feito novo:
A liberdade alevantando o povo.
 
Se é já próximo o dia e jaz latente
O novo renascer na estreita liga
Da justiça, como árvore virente
A cuja sombra o forte só se abriga,
E da moderna ciência a cuja frente
Vai a ideia espalhando a luz amiga,
Té que fecunde a nossa árida praia
E o grito — Enfim — das consciências saia!
 
E então, ergue-te ó pátria! Atenta o norte
Da nova senda alegre e redentora!
Ergue-te á vida e não receie a morte
Quem grande, e livre e forte, em tempos fora;
Quem foi guia e fanal! E desta sorte,
Que outros digam. Mercê consoladora:
— Avé povo de heróis! — E nós — Nações,
Esta é a pátria que cantou Camões!
 
Barros de Seixas – Portugal in “Descripção
da Festa Commemorativa do Tricentenário de Camões
Celebrada no dia 11 de Junho de 1880 pelo Retiro Litterario
Portuguez no Rio de Janeiro" – Brasil
 
Se pretender aceder a esta publicação pode consultar aqui
 
 
 


Sem comentários:

Enviar um comentário