Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A lição

A lição de Nelson Mandela

Muito se diz e escreve sobre Nelson Mandela, especialmente a propósito de ter completado a proverbial idade de 95 anos, para quem foi alvo de tantas sevícias físicas e psicológicas, em homenagem aos valores mais sublimes da vida humana. A comoção positiva quase universal com essa relíquia da Criação é tanto maior, quanto Mandela se encontra neste momento, no leito de uma grave enfermidade.

Em boa parte das afirmações sublinha-se o facto de Mandela ser o maior símbolo da luta de negros africanos contra o sistema instituído pelos criadores do hediondo apartheid na África do Sul; uma luta que ao cabo e ao fim, se deve inserir no mais amplo empreendimento da chamada África Negra contra o colonialismo europeu.

Para mim, porém, especialmente quando olho para os acontecimentos e intervenções das lideranças de hoje no Mundo, em África e em Angola de forma particular, a maior lição de Mandela é que ele conseguiu, e à custa do próprio sofrimento, colocar-se acima das partes e da “sua própria parte” para puxar os braços e as mãos de todos para a construção de um Futuro que deve congregar a todos, independentemente dos encontros e desencontros do passado.

Quando vejo, na TV, outro ancião de noventa anos a ser condenado à morte (comutada em prisão perpétua?!) no Bangladesh, por crimes alegadamente cometidos há várias décadas, num manifesto gesto de intolerância, com motivação política;

Quando constato que ontem três dos maiores partidos de Portugal, país nosso irmão, não conseguiram chegar a um acordo para por cobro a uma crise económica e política grave, aparentemente, para a salvaguarda de interesses meramente partidários (não perder as próximas eleições);

Quando no nosso “Jornal de Angola” acabo de ler a panegírica, para mim despropositada, de um historiador à “morte de 56 efectivos das tropas coloniais, por 27 aldeões de Cacata-Cabinda” há mais de 50 anos, e vejo nisso, entre outros, um acto dos que nos puxam quotidianamente para as mais negras páginas do nosso passado, para nos desviar dos problemas do presente: uma reconciliação nacional de fachada, cujos termos são abandonados logo que se tenta indagar sobre os problemas graves de hoje, protagonizados por quem detém o poder;

Quando tudo isso acontece, oiço a grande lição de Mandela, que ma ditou quando tive a felicidade de o abordar pela primeira vez, em Lusaka-Zâmbia, acabava de ser libertado, na primeira metade da década 90:

“Só poderemos construir o Futuro se soubermos perdoar o passado” Marcolino Moco – Angola in “Moco Produções”

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