Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 28 de setembro de 2013

Nova Macau

A nova cidade de Macau

O campus da Universidade de Macau na Ilha da Montanha já recebeu os primeiros alunos e em Novembro deve estar pronto para abrir as portas a todos os visitantes. O novo espaço é uma verdadeira cidade universitária, com salas de aula e laboratórios, mas também com piscinas, campos de futebol, um auditório para espectáculos, uma biblioteca, um quartel de bombeiros, lojas, serviços e muito mais. Tudo capaz de suportar dez mil alunos.

Em Macau o perto torna-se longe. A distância é psicológica e a escala do território convida a achar que uma viagem a Coloane é coisa para tirar um dia inteiro de fim-de-semana. Pensar numa visita ao novo campus da Universidade de Macau (UMAC), na Ilha da Montanha, parece ainda um cenário distante, um exotismo para momentos desocupados. Isso, no entanto, pode ter os dias contados.

A UMAC convidou a imprensa a visitar o novo campus, agora sob jurisdição de Macau, depois de ter sido entregue à RAEM a 20 de Julho pelas autoridades do Continente.

A viagem, feita na passada quinta-feira, começa no antigo campus da Taipa, do qual a universidade conservará no futuro apenas o edifício da biblioteca, ainda que não funcionando como tal. Menos de 15 minutos depois, o autocarro fretado para o efeito já deixou o Galaxy para trás e prepara-se para entrar no túnel subaquático que liga o Cotai à Montanha. Para já, apenas carros autorizados e o autocarro público U37 podem entrar no túnel e percorrer as quatro faixas de rodagem repartidas pelos dois sentidos. Futuramente, a via estará aberta a todos os veículos do território, sem check-points ou outros constrangimentos. Haverá também, espera-se que a partir de Novembro, uma segunda ligação pedonal e para bicicletas.



O lado de lá

O novo campus da UMAC é 20 vezes maior que o actual. Tem sensivelmente um quilómetro quadrado e a dimensão da cidade universitária percebe-se mal o autocarro deixa o túnel para entrar na Avenida da Universidade. Por agora, é esta a única paragem para transportes públicos em funcionamento e qualquer pessoa pode viajar até aqui. Dentro de alguns meses haverá outras. À saída do autocarro, o reitor da UMAC, Wei Zhao, e o vice-reitor, Rui Martins, cumprimentam todos os presentes com a nova biblioteca – o ex-líbris do novo campus – atrás de si.

O campus da UMAC foi desenhado por He Jingtang, arquitecto que nos últimos anos tem sido responsável pelos projectos da maioria das instalações universitárias no Continente e que foi também o autor do Pavilhão da China na Exposição Mundial de 2010, em Xangai. Em 2009, o arquitecto esteve em Macau a apresentar as grandes linhas do plano para o novo campus de Hengqin, assegurando que a conservação ambiental seria uma das principais preocupações do projecto. E o que agora salta à vista é o cuidado em criar zonas verdes, com muitas árvores a acompanharem o betão e com um grande lago rodeado de relva a funcionar como pulmão da cidade universitária.

Da Avenida da Universidade avista-se o Cotai e Coloane, para um lado, e a biblioteca, para o outro. A biblioteca, que tem capacidade para um milhão de publicações, é o centro de todo o complexo. Dali partem as diferentes artérias que conduzem à zona mais a norte, onde está situado o quartel dos bombeiros – o maior de Macau –, o grande auditório da UMAC, uma guesthouse com 110 quartos e a zona de centros de investigação e laboratórios. Para sul, ficam as residências dos estudantes de licenciatura, as casas dos alunos de pós-graduação e também os edifícios destinados a albergar os funcionários da universidade.

A biblioteca receberá todos os 600 mil exemplares agora guardados no antigo campus da UMAC, mais uma quantidade significativa de obras que a universidade está a adquirir. Haverá, pela primeira vez, uma área em funcionamento 24 horas, para que os alunos possam estudar durante a noite, à semelhança do que acontece em várias instituições de ensino europeias.

A Europa é, aliás, uma inspiração assumida do campus, também em termos arquitectónicos. Os muitos arcos e colunas dos edifícios, a juntar às cores quentes que se encontram em algumas fachadas e à calçada portuguesa que preenche o chão da grande praça diante da biblioteca, dão ao campus um toque europeu e sulista, várias vezes frisado durante esta visita.

O ano lectivo arrancou na passada segunda-feira e até agora há três edifícios completamente operacionais no campus que conta mais de 60 estruturas, depois de já terem passado nas inspecções públicas. Já há cerca de 2000 estudantes a viver no campus e este ano a UMAC deve receber cerca de oito mil alunos, com 80 por cento a residirem no novo complexo.

O principal edifício dedicado a aulas, onde se concentrarão disciplinas transversais à maior parte dos cursos, vários deles novos, tem capacidade para 3000 estudantes. A UMAC divide-se agora em oito faculdades, das Ciências da Saúde às Ciências Sociais.


Aberta à sociedade civil


O reitor Wei Zhao faz questão de reiterar o facto de várias das instalações do novo campus irem não apenas servir os alunos mas também toda a cidade. Boa parte da nova zona sob jurisdição de Macau estará aberta aos residentes, apesar de a circulação de carros ser circunscrita à área mais próxima do túnel, ficando o campus reservados a veículos autorizados, a bicicletas e a pedestres.

A nova UMAC tem 2500 lugares de estacionamento repartidos por várias áreas. Estarão disponíveis para todos quantos desejem usufruir da zona que, entre outras infra-estruturas, terá no seu centro cultural e no grande auditório, com capacidade para cerca de mil espectadores, uma das principais atracções. Wei Zhao explica que o objectivo é oferecer o espaço à Orquestra de Macau para que ali se torne residente, ensaiando com regularidade e também dando concertos. O auditório deve ainda receber outros eventos programados em parceria com o Instituto Cultural.

As instalações desportivas, com uma piscina olímpica, um campo de futebol e uma pista de atletismo com medidas oficiais para receberem qualquer tipo de competição, estarão também articuladas no futuro com a gestão do Instituto do Desporto.

Nada disto seria possível sem o crescimento do número de funcionários da universidade, que de acordo com o site da instituição está situado nos 750 e que quase triplicará; e do corpo docente, que duplicará para perto de 800 professores. Para este novo ano lectivo, a UMAC a recebeu mais 1520 alunos do que no ano anterior e o objectivo é ir gradualmente crescendo até aos dez milhares de estudantes.

Os edifícios de investigação, situados junto ao quartel dos bombeiros, somam mais de 300 laboratórios e 20 centros de investigação. O autocarro que transporta a imprensa dá a volta ao campus, passa junto do estádio e do complexo desportivo com um pavilhão com capacidade para 3000 pessoas e vários campos para badminton e outras modalidades, e entra na Avenida dos Alunos, que dá acesso às residências de estudantes de licenciatura, de acordo com a UMAC as maiores da Ásia. Ao longe vê-se o muro que separa o campus do restante território da Montanha, esse sob jurisdição das autoridades do Continente. Recorde-se que recentemente soube-se que os cidadãos do Continente que entrarem no novo campus da Universidade de Macau saltando a vedação do complexo serão punidos por travessia ilegal de fronteira. A revelação foi feita por um funcionário da fronteira do Continente ao diário Global Times.

É num dos edifícios destinados à residência de alunos de licenciatura – que terão também à sua disposição vários serviços, como supermercados, cafés, farmácias e clínicas – que Wei Zhao fala à imprensa, fazendo uma apresentação das principais novidades que a UMAC introduz neste ano lectivo. O reitor apresenta os novos cursos e o modo como o campus da Montanha funcionará. Diz desconhecer a alegada investigação do Comissariado Contra a Corrupção ao processo de atribuição de casas no novo campus (ver texto nestas páginas) e garante que o processo está a decorrer com normalidade.

De volta ao autocarro, a viagem de volta à Taipa faz-se em poucos minutos. O campus e o novo túnel parecem agora mais perto. A nova cidade de Macau continua a crescer ali ao lado, maior que todos os casinos do território. Hélder Beja – Macau in “Ponto Final”

Sem comentários:

Enviar um comentário