Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A lição de Mandela

A lição de Mandela mais inovadora e mais difícil de apreender

Parece estar a correr um abaixo-assinado, contra a presença do Professor Cavaco Silva, Presidente actual de Portugal, nas cerimónias fúnebres de Mandela, por, alegadamente tratar-se de um acto de hipocrisia de alguém que, há cerca de trinta anos (sublinho, trinta anos), teria votado alguma coisa contra esta figura, que se viria a impor como um ser de uma outra galáxia, na sua Humanidade.

Ora, esta é justamente uma forma de contrariar a maior lição de Mandela: saber perdoar o passado, assentar no presente e construir o futuro.

Lição difícil, na realidade, porque o que aprendemos todos dias, nós seres humanos normais, é enterrar os nossos pés no lodaçal do passado, para reclamar a nossa “caça às bruxas”. Por essa atitude inovadora, Mandela que sabia muito bem o que se passara, já abraçou o Professor Cavaco, pelo menos uma vez que vimos na TV. Mandela, defendeu portugueses, alguns dos quais apoiaram, por equívocos humanos, o apartheid, e deixou que continuassem a contribuir para o desenvolvimento da nova África do Sul e, sobretudo, para salvaguardar as suas vidas e sua dignidade humana, na medida do possível.

Por ser difícil de apreender, esta lição, é que quase se generalizava em alguns círculos africanos, com o princípio da vingança cega incorporado, a ideia de que Mandela seria “traidor” da causa dos “negros” contra os “brancos”, quando o que o Homem sempre defendeu era a igualdade justa entre os homens de todas as cores, latitudes e longitudes. Mas como esta lição tem efectivamente conteúdo, alguns dos autores do “baixo assinado”, esquecem-se de um presente em que – pasme-se – todos os partidos políticos parlamentares do “irmão” Portugal (com a excepção do Bloco de Esquerda), se recusaram a aprovar uma simples moção de censura, contra um regime africano (Angola) que mata um jovem desarmado a colocar um panfleto que reclama por outros dois jovens torturados, cujos corpos foram atirados a um rio, para gáudio de uns quantos jacarés.

Hoje, numa conferência na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa sobre “Economia Social de Mercado da União Europeia”, quase perguntei (só não o fiz tal e qual por certa delicadeza com alguns ouvidos mais sensíveis) se a União Europeia não tinha fundos para evitar que Portugal supere a sua crise, entre outras medidas, deixando-se colonizar por um regime africano que, no século XXI, gasta mais dinheiro com o aparelho repressivo contra o seu povo e sua juventude do que com a salvaguarda das suas vidas e sua educação. Mas, é esta a grande lição de Mandela, difícil de apreender: fixar-se essencialmente nos aspectos positivos do passado, estabelecer-se no presente e ter disponibilidade para repensar o futuro! Marcolino Moco - Angola

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