Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Guiné Equatorial e a Espanha

Rajoy e Obiang

O encontro, ou melhor, o desencontro entre os líderes da Espanha, o presidente do governo Mariano Rajoy com o presidente da República da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema, durante a recente Cimeira África - União Europeia realizada em Bruxelas, são um ponto para refletir sobre a política externa espanhola e a necessidade de a reorientar para a retomada do diálogo com a cultura latino-americano no mundo. Uma coisa foi certa: enquanto Rajoy desprezava a foto no seu encontro com o seu homólogo africano, muitos outros presidentes tentaram sentar-se à mesa de Obiang e ocupar o espaço deixado pela Espanha nas suas relações com a Guiné Equatorial. A presença americana ou chinesa ocupam agora um espaço primordial no país africano.

A recente Cimeira África - União Europeia que decorreu em Bruxelas e que reuniu os ministros dos Negócios Estrangeiros europeus e africanos para abordar os problemas Norte-Sul, tem atraído a atenção incomum em torno dos líderes e das propostas. O primeiro-ministro espanhol, o conservador Mariano Rajoy, conseguiu que a sua proposta de agenda para resolver o problema da imigração ilegal que assedia quase diariamente a fronteira espanhola nos enclaves africanos de Ceuta e Melilla fossem incluídas, mas não se chegou a qualquer decisão para resolver este problema que cerca as fronteiras da UE por terra e mar.

Mas o que tem atraído mais atenção tem sido a resistência de Mariano Rajoy para deixar-se ser fotografado com Teodoro Obiang Nguema, presidente da Guiné Equatorial, uma antiga colónia espanhola que teve a sorte de encontrar grandes depósitos de petróleo e gás no subsolo da plataforma continental das suas águas territoriais. Obiang aproveitou a sua viagem à Europa e pode também tomar parte no funeral pelo falecimento do ex-presidente espanhol Adolfo Suarez, impulsionador da transição espanhola após a morte de Franco, em 1975, mas Rajoy e os ministros espanhóis evitaram o contato com o presidente da Guiné Equatorial para não "sentirem-se contaminados" nos meios da comunicação social.

Ao fim ao cabo, não deixa de ser irónico que o mesmo Obiang Nguema nascido como espanhol em 1942, e que inclusivamente chegou a formar-se como militar na Escola de Oficiais do Exército que a Espanha ainda tem em Saragoça, donde saiu como Tenente. Hoje em Espanha Obiang é tratado como um pária, mas não agem como outros países que viram na Guiné Equatorial uma oportunidade de negócio.

O sentimento do equatoguineano frente aos seus homólogos espanhóis é como o pai que abandonou seu filho: dor pelo abandono e indiferença, mas o orgulho pela independência alcançada. A República da Guiné Equatorial é hoje um país de contrastes, como pode-se observar no decorrer do “Fórum Emerging Guiné Equatorial”, realizado em Malabo nos passados dias 3 e 4 de Fevereiro de 2014, com uma forte representação de autoridades financeiras e monetárias de todo o mundo, investidores internacionais e diversas autoridades. Mas também chamou a atenção os reconhecimentos que brindam hoje a Guiné Equatorial e o seu presidente Obiang, pelos países africanos, especialmente do Golfo da Guiné, velhos rivais, que reconhecem na Guiné Equatorial uma evolução, não só no económico ou nos investimentos, mas também no social e no político.

Obiang é mais um militar que um político, e sua orientação está sempre focada em atingir metas e objectivos concretos. A Guiné Equatorial deixou muito rapidamente de ser considerado um país com um baixo índice de desenvolvimento humano (IDH), para ser considerado como médio, com um IDH de 0,55, e os especialistas acreditam que, durante os próximos cinco anos possa atingir a categoria de alto desenvolvimento com IDH acima de 0,70. Boa parte destes evidentes sucessos e o crescimento exponencial que está acontecendo no país deve-se à sorte granjeada pelas suas reservas de petróleo.

Embora neste contexto, a situação da Espanha com respeito à Guiné Equatorial é inconcebível para muitos, pois questiona um dos poucos líderes africanos que é neste momento respeitado tanto pela China, os EUA ou a França. A Espanha continua em recessão nesta área do mundo, como acontece em muitas outras, mas aqui é percebido com um sentimento emocional que não é apreendido no resto. A Guiné Equatorial é hoje o único país de África onde se fala espanhol, mas este idioma também está em declínio em favor do inglês ou francês. O “Fórum Emerging Guiné Equatorial” foi um bom exemplo: escassas foram as empresas espanholas que estiveram presentes, frente a um aluvião de investidores e empresas francesas ou americanas: os uísques bebidos, após o términus das sessões realizadas, nos bares e hotéis eram num diálogo em língua inglesa.

Os pecados da Espanha com a Guiné Equatorial vêm de há muito tempo: A Hispanoil abandonou as explorações petrolíferas e, simultaneamente as empresas retiraram-se das explorações pesqueiras ou do negócio do cacau. É por isso que é incrível como a Espanha e o seu governo ignora todos os que tiveram a ver com o seu passado numa dinâmica de um salto para a frente: enquanto Rajoy não quer sentar-se à mesa com o mandatário da Guiné Equatorial há dezenas de dignitários de todo o mundo que estão ansiosos para ter a oportunidade de sentar-se ao lado de Obiang e de tratar de negócios, da mesma maneira como fazem os franceses e os americanos. Se a Espanha já foi o primeiro parceiro económico da Guiné Equatorial, hoje esse espaço foi cedido para o terceiro lugar para o benefício dos Estados Unidos e da China. E a distância continua a crescer.

A Guiné Equatorial soube ganhar a pulso um crescente reconhecimento na esfera das relações externas centro-africanas, e não tem sido precisamente com a ajuda da Espanha. Os avanços na electrificação, água corrente ou na habitação social são notórios, sendo um dos países da região que mais rapidamente tem avançado nos últimos anos. É também o único que conseguiu controlar as epidemias como a malária, ou que atingiu uma elevada cota da escolarização infantil. A Guiné Equatorial enfrenta um futuro promissor para um país que reúne um pouco mais de 700 mil pessoas num território relativamente pequeno.

E a confiança que merece o investidor estrangeiro é precisamente o da segurança que garante a presença de numerosas empresas estrangeiras, num ambiente estável e de crescimento constante. Para muitos dirigentes africanos, a Guiné Equatorial passou por Bruxelas como um exemplo, um modelo invejável e a seguir por todos aqueles que quiserem parecer-se. José Barceló – Espanha in “El Mundo Financiero”

Tradução: Baía da Lusofonia

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