Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Guiné Equatorial – Arqueologia na ilha de Corisco

Universidade dos EUA publica o rico passado arqueológico da ilha de Corisco

Depois de na última temporada de escavações (maio de 2012) conduzida por guineenses e arqueólogos espanhóis na ilha de Corisco na Guiné Equatorial (Mandji na língua local), a pesquisa concentra-se agora na divulgação dos resultados entre a comunidade científica internacional. Recorde-se que estamos falando de descobertas espectaculares, únicas na África subsaariana, uma vez que os restos arqueológicos encontrados em 2010 junto ao aeroporto internacional existente na ilha, pertence a um cemitério com dois mil anos. Além disso, os arqueólogos têm documentado, no mesmo lugar toda a sequência histórica da ilha de Corisco, a partir de um período anterior ao nascimento de Cristo até aos nossos dias.

Dada a magnitude da descoberta, a American University of Florida publicará brevemente em língua inglesa, um livro que terá como título "Arqueologia do Capitalismo", assinado pelo arqueólogo espanhol Alfredo González Ruibal, director das escavações de Corisco e será dedicado ao "Património Arqueológico na Guiné Equatorial". O director acrescentou à nossa revista, "A Gazeta da Guiné Equatorial", que a mesma universidade publicará brevemente, um livro (também em Inglês), intitulado "A Arqueologia do colonialismo espanhol na América, Filipinas, Marrocos e Guiné Equatorial."

Com o lançamento destas pesquisas arqueológicas, o director das escavações, o espanhol Alfredo Gonzalez Ruibal (professor e pesquisador do "Conselho Superior de Pesquisas Científicas" (CSIC) afirmou que "pode ​​ter a sequência histórica completa de evolução guineo-equatoriana das populações no estuário do rio Muni e Corisco desde a Idade do Ferro (700 AC) até ao presente."

Três momentos de desastre ecológico

Como antecipação do que serão as futuras publicações, Alfredo González referiu que os pesquisadores foram capazes de testemunhar três momentos de antropogénica catastrófica (causada pelo homem) e ecológica em Corisco. Um dos episódios consistiu em que a ilha sofreu uma desflorestação total, ficando apenas com os recursos para manter a subsistência dos seus habitantes. A primeira ocorreu no ano de 500 DC; A segunda, por volta de 1200 DC, e a terceira, coincidindo com os primeiros momentos da colonização europeia da ilha. Uma colonização que começou em 1642, quando a Holanda se apoderou da região geográfica que integra actualmente o território da Guiné Equatorial, estabelecendo na ilha de Corisco a base das operações de escravos. Seis anos depois, em 1648, a coroa portuguesa recuperou estas colónias e criou "A Companhia de Corisco". Já em 1778, com a assinatura do "Tratado de El Pardo," entre Espanha e Portugal, o país luso cedeu à coroa espanhola as ilhas de Fernando Pó e Ano-Bom, na Baía de Biafra, com o direito de livre comércio desde o cabo Formoso, na foz do rio Níger até ao Cabo Lopez, a sul do Gabão. Só depois de 1858, quando os chefes Bengas de Corisco e das Elobeyes fizeram a transferência das ilhas para o governo de Madrid, se pode falar de colonização espanhola eficaz destes territórios.

Do luxo à decadência

Assim, desde o início do século XIX, e até relativamente tarde, pôde-se desenrolar em Corisco uma notável classe nativa, comparável à rica burguesia espanhola dessa mesma época. Correspondendo aqueles tempos, os arqueólogos encontraram ricas porcelanas e luxuosas cerâmicas feitas nas melhores fábricas da Europa. Louça idêntica ao que então possuíam os colonos ingleses mais ricos das Caraíbas e dos países do sul da América.

No entanto, tudo mudou quando os espanhóis começaram formalmente a sua colonização da ilha, totalmente consolidada no ano de 1880. A burguesia Benga começou então o seu declínio, ao ver reduzido o seu poder hierárquico e económico em detrimento dos colonos espanhóis. As louças que a partir de então chegam da Europa a Corisco, não são tão luxuosas, nem de tanta qualidade. E em 1900, com a chegada do novo século, a situação ainda piora. Os comerciantes europeus colocam uma linha de produção de cerâmica de baixa qualidade (o que reduziu significativamente os custos de produção) concebido exclusivamente para o comércio colonial. Trata-se da louça que os arqueólogos encontraram tanto em África (Guiné, Namíbia, Gana...), como na Índia, Indonésia ou Malásia.

Mente sã em corpo são

Um último dado interessante sobre os efeitos da colonização na ilha de Corisco, à luz da vertente da ciência arqueológica: durante as suas pesquisas na ilha de Mandji, os arqueólogos identificaram mais de trinta assentamentos humanos pertencentes aos tempos contemporâneos (desde o final do século XVIII até meados do século XX). Em todas encontraram-se recipientes de bebidas alcoólicas: desde as produções locais para Malamba, até ao gin estrangeiro (uma tradição holandesa) e vinho espanhol. Quanto aos hispânicos, outra curiosidade: quanto maior é o declínio da população nativa, mais alta é a graduação (são abundantes evidências de importação de xerez) dos vinhos oriundos da Península Ibérica.

 A Arqueologia, portanto, veio demonstrar a verdade do velho ditado africano, segundo a qual "a melhor ferramenta de trabalho de uma pessoa é o seu próprio corpo." Por isso, quando alguém se mutila por meio de drogas ou álcool, também prejudica a sua dignidade e perde o respeito pelas suas tradições, família e pelo seu povo. Bem o sabiam na antiga Roma o seguinte ditado: "Mens sana in corpore sano", ou o que seria o mesmo: ". Respeita o teu corpo e a tua alma, e serás uma pessoa trabalhadora, honesta e solidária" A arqueologia é também uma fonte de sabedoria, e a Guiné Equatorial, a possui em abundância. Luís Marco – Guiné Equatorial in “La Gaceta de Guinea Ecuatorial”

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