Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

IILP – Entrevista a Evgeny Kuzmin

No Colóquio Internacional “A Língua Portuguesa, o Multilinguismo e as Novas Tecnologias das Línguas no Século XXI”,nos dias 15 e 16 de outubro do corrente, no CEFET-MG, em Belo Horizonte, Brasil, o Presidente do Comitê “Informação para Todos” da UNESCO na Rússia,  Evgeny Kuzmin, vai fazer uma conferência sobre “A Diversidade e as Novas Tecnologias no Quadro das Grandes Negociações Globais sobre as Línguas”. 

Doutor Eugeny Kuzmin, é a primeira vez no âmbito do Conselho Intergovernamental do Programa “Informação para Todos” da UNESCO que irá participar de uma conferência desse tipo no Brasil? Por que o senhor decidiu participar do Colóquio?
Eugeny Kuzmin
Kuzmin: Esta é uma ótima oportunidade, única, para conhecer diretamente muitos colegas brasileiros e dos outros países da CPLP, para permutar ideias e opiniões, conhecer o que eles estão pensando e fazendo, para identificar objetivos e desenvolver projetos em comum, ou pelo menos os seus contornos. Também, é muito importante dar informações de primeira mão sobre o que tem sido feito no Programa “Informação para Todos” da UNESCO, e o que está sendo feito para manter as línguas na Rússia, onde existem mais de 100 povos indígenas.
Além disso, é muito agradável ser convidado para a conferência de um país que considera  a Rússia como um aliado, apesar da oposição geopolítica agravada de hoje. Precisamos aprender mais um  sobre o outro e desenvolver mais trabalhos conjuntos. Assim, vou para  Belo Horizonte com muito alegria e grandes expectativas e estou muito grato pelo convite.
O senhor  foi há alguns anos o Presidente do Conselho Intergovernamental do Programa “Informação para Todos” da UNESCO, e agora está chefiando o Comitê “Informação para Todos” da UNESCO na Rússia. Nesses âmbitos foi iniciador de uma série de atividades para promover o multilinguismo. Diga, por favor, se acha que houve avanços na compreensão de que a diversidade linguística é necessária, de que é importante preservar, manter e desenvolver as línguas. Esta mentalidade estabeleceu-se no mundo ou ainda não?
Kuzmin: Não há dúvidas de que o interesse por este tema vem crescendo em todo o mundo. E não apenas porque as línguas minoritárias estão enfraquecidas e ainda mais marginalizadas, mas também porque grandes línguas, em que criou uma grande literatura mundial e da ciência, como o Francês, o Alemão, o Espanhol, o Russo, o Português, estão sendo marginalizadas, de certa perspectiva. As pessoas não podem deixar de se preocupar. O Programa “Informação para Todos” da UNESCO, nos últimos anos, tornou-se quase o principal promotor deste tópico, para o equacionamento deste problema.
O Comitê “Informação para Todos” da UNESCO na Rússia já realizou três grandes conferências internacionais “A Diversidade Linguística e Cultural no Ciberespaço” na Rússia, em Yakutsk, na Síbéria. Cerca de 50 países participaram da última conferência, ocorrida em julho deste ano. Os participantes desta terceira conferência aprovaram o documento final, a “Declaração de Yakutsk sobre a Diversidade Linguística e Cultural no Ciberespaço”. Neste documento, foi reforçada novamente a sugestão sobre a necessidade da organização da Cimeira Mundial sobre o Multilinguismo, no âmbito das Nações Unidas. O senhor acha que  este encontro “A Língua Portuguesa, O Multilinguismo e As Novas Tecnologias das Línguas no Século XXI”, no Brasil, pode se tornar uma das etapas preparatórias de uma Cimeira Mundial?
É importante que a ideia de organizar a Cimeira Mundial da ONU sobre o Multilinguismo não tenha sido esquecida e continuará a ser discutida em diferentes países, em diferentes fóruns e em diferentes níveis. Seria ingênuo esperar que, por ser expressa em um ou dois fóruns, seria imediatamente aceita e apoiada por todos os Estados. Esta ideia tem seus defensores, mas há adversários poderosos. Para muitas pessoas, o apoio à diversidade linguística no mundo real e no ciberespaço, é uma ideia correta e nobre, para outros é  utópica, e para um terceiro grupo, é até prejudicial, porque cria dificuldades na realização dos seus objetivos de hegemonia. Por isso, é extremamente necessário promover este pensamento  tão amplamente quanto possível, utilizando todas as plataformas disponíveis.
O Instituto Internacional da Língua Portuguesa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) poderia vir a desenvolver o projeto de fazer o Atlas das Línguas dos Países da CPLP, conforme foi expresso na Carta de Maputo, desenvolvida no Colóquio Internacional de Maputo sobre a Diversidade Linguística nos Países da CPLP. Sei que a UNESCO também tem um projeto para criar o Atlas das Línguas do Mundo. O que o senhor acha, pode haver um ponto de contato desses dois projetos?
Não só pode, mas deve, devemos tentar trabalhar juntos. Nesta fase é importante os especialistas brasileiros e lusófonos em geral tomarem parte ativa na discussão do conceito e dos parâmetros  da modernização do projeto existente na UNESCO e precisam ficar nos grupos de trabalho relevantes.
A Rússia e o Brasil, junto com a China, a Índia e a África do Sul, estão incluídas na aliança chamada BRICS. Quais projetos conjuntos entre a Rússia e o Brasil são possíveis, na sua opinião, para a promoção do multilinguismo em nossos países, para a organização das pesquisas amplas e do intercâmbio de dados científicos?
Em primeiro lugar eu diria que é preciso estabelecer a prática regular de seminários conjuntos para profissionais ​​e políticos e o início do processo é sempre uma tarefa difícil. É importante chegar a acordos sobre as formas de promoção das línguas e de modelos de multilinguismo verdadeiro, e não só das pequenas línguas, mas também das línguas principais,  criando assim uma prática normal nos BRICS. Precisamos chegar ao acordo de que o Português e o Russo se tornem línguas de trabalho dos órgãos dos BRICS. Repito que o multilinguismo não é apenas para as línguas pequenas e indígenas, mas também para as línguas principais. Agora muitas vezes nos esquecemos disso quando falamos sobre o multilinguismo. É necessário ampliar o estudo do português na Rússia e  do russo no Brasil. Se juntos vamos nos comunicar apenas em Inglês, os BRICS podem, eventualmente, degenerar na organização econômica e política de pessoas não só falando mas também pensando em inglês. Lyubov Kazachenkova - Instituto Internacional da Língua Portuguesa

Lyubov Kazachenkova - Redatora-chefe da Revista “Biblioteca Moderna”, Moscovo, Rússia.

Sem comentários:

Enviar um comentário