Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Brasil – A integração comercial entre países lusófonos

Essa busca de novas parcerias, mercados consumidores e ambiente propício à internalização de empresas dentro das fronteiras da comunidade são vistas pelo Brasil como um incentivo para fortificar os vínculos com tais países, bem como, o desenvolvimento direto e real de alianças comerciais.

O Brasil, cada vez mais, se engaja em projetos de diplomacia horizontal e alianças integracionistas com países em desenvolvimento. Críticas quanto aos seus interesses regionais e a imagem de neocolonialismo que estes geram são inerentes, porém o Ministério das Relações Exteriores (MRE) brasileiro já está preparado para lidar com essas questões sensíveis e promover ações no hemisfério sul. Frente ao seu ambicioso projeto de “ator global” e seu suporte aos acordos de cooperação Sul-Sul no mercado internacional, principalmente no setor do agronegócio, o país adentra o mundo do cooperativismo e tenta exportar alguns programas sociais e econômicos implementados em âmbito nacional para países menos desenvolvidos localizados na África e sudoeste Asiático.

Neste contexto, diversos ministérios e o próprio Palácio do Planalto iniciaram uma aproximação estratégica com os países integrantes da chamada Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), de forma a aumentar a atuação do Brasil junto a estes potenciais mercados consumidores emergentes e sustentar a bandeira de nação assistencialista em esfera internacional. Criada a 17 de Julho de 1996, atualmente a CPLP possui nove países-membros espalhados pelos quatro cantos do globo, são eles: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

A CPLP reitera de forma substancial seu suporte diplomático coletivo aos projetos propostos pelos seus membros em nível internacional como as propostas sugeridas dentro da Organização das Nações Unidas (ONU) e as alianças comerciais adotadas dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC). A comunidade, bem como os seus membros observadores e associados, foram de fundamental importância para a eleição do brasileiro Roberto Azevêdo para a direção-geral da OMC em 2013. Com sede localizada em Lisboa/Portugal, a comunidade é regida pelo seu Secretariado Executivo, que estuda, escolhe e implementa planos políticos para a comunidade e dá suporte aos diversos acordos, protocolos e convênios firmados em âmbito regional.

A relevância da CPLP é crescente e galgada em sólidos acordos internacionais de cooperação. Frente a esta estabilidade conjuntural, a China adentrou os mercados do grupo com fortes investimentos comerciais e financeiros. Dados da Alfândega Chinesa divulgados no Fórum para a Cooperação Econômica entre a China e os Países de Língua Portuguesa, entre Janeiro e Março de 2014, informaram um aumento de 32,12%, nas compras de produtos da comunidade. Na lista de produtos provenientes de trocas comerciais com os países lusófonos, destacam-se as commodities, a viabilização de parcerias público-privadas (PPPs) e investimentos em projeto de infraestrutura portuária, implantação de projetos de energia renovável e desenvolvimento sustentável, além de ações focadas de fomento ao comércio bilateral de produtos alimentícios industrializados e fármacos. Outro arquétipo de engajamento integracionista foi o firmado Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias e o Acordo de Barreiras Técnicas ao Comércio.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) apontam um total de mais de US$ 225 milhões exportados pelo Brasil para países da CPLP entre Janeiro e Dezembro de 2014. Contudo, o intercâmbio comercial entre o Brasil e os países da comunidade enfrenta alguns entraves. Fato é que estas economias ainda apresentam altas taxas de pobreza e desemprego, com mercados consumidores concentrados em produtos básicos e que enfrentam problemas sérios de infraestrutura de transportes e logística. Em Cabo Verde, por exemplo, existe o entrave da infraestrutura de escoamento da produção agrícola e industrial do país, esta pouco diversificada e dependente de importações de países desenvolvidos como os da União Europeia. Já em Moçambique, na costa leste africana, o custo dos fretes e a escassa disponibilidade de transporte marítimo dificultam as exportações e importações brasileiras e comércio exterior em geral.

Essa busca de novas parcerias, mercados consumidores e ambiente propício à internalização de empresas dentro das fronteiras da comunidade são vistas pelo Brasil como um incentivo para fortificar os vínculos com tais países, bem como, o desenvolvimento direto e real de alianças comerciais. Sem o entrave linguístico, a exportação de produtos e serviços, as transações financeiras e a expatriação de profissionais nestes mercados ficam amplamente facilitadas, tornando a inserção internacional de empresas brasileiras, principalmente de Pequenas e Médias Empresas (PMEs), uma realidade concreta. O Brasil pode e deve aproveitar este momento para aumentar a sua presença internacional e tentar barrar a eminente desaceleração econômica que ameaça a nossa economia, principalmente através deste projeto ímpar de integração regional e multissetorial. Thiago Dias – Brasil in “Diário da Manhã de Goiânia”

Thiago Costa Dias – Mestre em Relações Internacionais pela Université de Liège - Bélgica

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