Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 23 de junho de 2015

Portugal – Olivença na Feira do Livro de Lisboa

Soube-se no dia 30 de maio no recinto da Feira do Livro de Lisboa de 2015. Era o dia de Olivença na dita Feira.

Olivença! Palavra evocadora de tantos sentimentos contraditórios! Temática de oposição demo-liberal (até comunista!) no tempo do Estado Novo (até 1974), temática tida como salazarista ou monárquica partir de 1974/75 (sabe-se lá porquê!), temática de sonhadores, nacionalistas, esquerdistas. Enfim, o exemplo completo dum assunto rodeado de preconceitos e de muita, muita ignorância.

Diziam alguns na Feira que era um “regresso de Olivença”. Quase ninguém percebeu. Muito poucos sabem que um dos organizadores do primeiro “ensaio” da Feira, em 1930, foi um oliventino. Menos ainda que a primeira Feira oficial, em 1931, foi da responsabilidade desse mesmo oliventino, Ventura Ledesma Abrantes (1883-1956). Refugiado em Lisboa, este livreiro/editor, intelectual de reconhecido valor, foi o único homem com coragem para editar os livros sobre sexualidade do Dr. Egas Moniz. Conseguiu, contra vontade de Salazar, a nacionalidade portuguesa “automática” (digamos assim) por volta de 1940. Morreu ignorado por quase todos.

No auditório da Feira do Livro de Lisboa, naquele 30 de maio de 2015, à tarde, apresentava-se a Associação cultural autóctone oliventina “Além Guadiana” (fundada em 2008). Com um cartaz: “Nós falamos português há mais de sete séculos em Olivença. O bilinguismo é o nosso futuro.”

O que se passou foi descrito por um jornal brasileiro e presenciado por quem ali esteve. Falou primeiro Eduardo Naharro Macias-Machado, membro da referida Associação e professor de Português, que, entre outras coisas, disse que o futuro de Olivença deve passar pela total integração na cultura portuguesa. “Em Olivença, temos duas línguas maternas (espanhol e português) e queremos condições de igualdade.”Joaquín Fuentes Becerra, o presidente da Associação, falou depois, dizendo que pelos motivos apresentados por Eduardo “as gerações mais jovens tomaram para si a luta para recuperar e fortalecer a língua portuguesa”, e que por isso são realizadas anualmente atividades culturais, abrangendo a língua portuguesa (leitura pública de textos em português), dança e música. E acrescentou: “O mais importante desse processo é a mudança de consciência, de mentalidade. O que identifica Olivença é o carácter bicultural.”

Já o historiador e diretor do Museu Etnográfico, um homem com muitos trabalhos publicados, e que foi o único que falou em castelhano, Miguel Ángel Vallecillo Teodoro apresentou livros sobre a arquitetura de Olivença. E lembrou que a cultura oliventina teve marcante influência também do judaísmo.

O escritor oliventino, também membro da Associação, José Antonio Gonzalez Carrilo, mostrou Olivença através dos livros de que é autor (e que já são muitos). Considerou Ventura Ledesma como um dos inspiradores do seu trabalho. Disse textualmente: “Sem dúvida, este oliventino universal, que hoje conta com uma merecida rua em Lisboa (e não em Olivença), foi um dos grandes precursores da difusão cultural e histórica da localidade que nesses anos começou a revelar uma injusta desvalorização.”

Finalmente, Julián Portillo Barrios leu alguns de seus poemas, já publicados em livros, em português, revelando que se inspirou em poetas portugueses e brasileiros. Mais, revelou que quando estudou biblioteconomia em Buenos Aires, fez várias viagens ao Brasil,nomeadamente a Minas Gerais, onde aperfeiçoou o seu português.

Eduardo Naharro Macias-Machado encerrou a sessão, declamando um poema mais (este, da sua autoria). Um pouco à margem, mas de pleno direito, o deputado português José Ribeiro e Castro, um dos defensores da causa destes modernos oliventinos, disse esperar que o “Dia de Olivença” se repita nos próximos anos na Feira do Livro de Lisboa.

Membros da audiência colocaram algumas questões à Associação, e o final consistiu num breve debate.

Espera-se que este acontecimento não caia no esquecimento e seja, pelo contrário, divulgado. Fez-se História. Carlos Luna - Portugal

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