Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Casamansa – A ex-colónia portuguesa que luta pela independência

Ninguém fala nem ninguém parece preocupar-se, mas há no Senegal uma antiga colónia portuguesa que luta pela independência. Descubra a história de Casamansa




O domínio do Senegal na região vem sendo contestado há muito tempo, mas recrudesceu quando, entre 1974 e 1975, as antigas províncias de Portugal no Ultramar tornaram-se nações independentes e as forças políticas de Casamansa viram no movimento uma oportunidade de reivindicar a sua origem de “ex-colónia portuguesa”.

Faz quase um século que a Casamansa deixou de ser colónia portuguesa: em 1908, os portugueses foram obrigados a ceder definitivamente a região à França, passando apenas a ocupar a Guiné. Mas, desde 1884-1885, vinham tentando resolver a questão a seu favor, pressionando Portugal no âmbito da Conferência de Berlim, que dividiu a África entre ingleses, franceses, belgas, alemães e portugueses.

Historicamente, os portugueses chegaram primeiro. Foi em 1445 que o português Diniz Dias “descobriu” a Casamansa, que, na linguagem do país, significa rei do rio dos Cassangas, porque a palavra mansa quer dizer rei ou senhor. Mas há historiadores que afirmam ter sido em 1446 que a região foi “descoberta”, quando António de Nolle e Luís de Cadamosto, por ordem do infante Dom Henrique, percorreram a costa do rio Geba.

A colónia nasceu a partir de uma feitoria em Ziguinchor – hoje uma cidade com cerca de 40 mil habitantes e um milhão nos seus subúrbios –, criada para intensificar o comércio de escravos com o Império Gabu, reino que englobava, além da Casamansa, a Guiné-Bissau e a Gâmbia, reunindo várias etnias, como a jola – que sempre foi maioritária –, a fula, a banta e a manjaco.

Os franceses, atraídos pelo florescente comércio de carne humana, chegaram em 1459. No séc. XVIII, franceses e portugueses combateram entre si na região. A partir de 1908, a Casamansa tornou-se colónia francesa, mas não integrada no Senegal.

Depois da Segunda Guerra Mundial, foi criada a Federação do Mali, que reunia também o Senegal e a Casamansa. Em 1947, com a democratização das actividades políticas pelas autoridades coloniais, surgiram o Bloco Democrático Senegalês, comandado por Leopold Senghor, e o MFDC, que só optou pela luta armada a partir de 1982.

Proclamada a independência da Federação em 1958, o Mali, dois anos mais tarde, retirou-se da aliança porque exigia que a capital fosse Bamako em vez de Dacar. Casamansa ficou, então, unida ao Senegal por um documento que previa a coligação por duas décadas. Mas, em 1980, Senghor entendeu que, “para o bem das duas nações”, a Casamansa deveria continuar unida ao Senegal. Quando ele já não estava no poder aconteceu a tragédia de Ziguinchor.

Dos 3,5 milhões de habitantes, apenas 10% são alfabetizados e aprenderam obrigatoriamente um pouco de francês. O povo fala mesmo o idioma jola e o crioulo português. Só alguns integrantes da elite, que estudaram na França, usam o francês. As ligações com o mundo lusófono são muito fortes. Até porque Portugal esteve lá 462 anos, enquanto a presença francesa não passou de oito décadas.

Apesar do esforço de Dacar para erradicar a cultura lusa, há alguns monumentos em ruínas que testemunham a presença portuguesa. Mas, em razão da repressão, não há na Casamansa nenhum jornal ou emissora de rádio em língua portuguesa. Só entram jornais em francês impressos em Dacar. Adelto Gonçalves - Brasil In “Ncultura” - Portugal

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