Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Brasil - Quarta Revolução Industrial é uma realidade

A Revolução 4.0 promete eficiência, redução de custos e preservação ambiental, porém o preço para a mão de obra é alto

“Estaremos cada vez mais em contato com siglas como IoT, M2M, IPV6, Wireless, virtualização, nuvem, Big Data e RFID e devemos começar a nos acostumar”, afirma o professor e mestre em Gestão Empresarial da Fundação Getúlio Vargas, Rubens Kiso, do grupo FocusNetworks.

A primeira revolução industrial histórica, impulsionada pela implantação das máquinas de tear na Inglaterra, aconteceu no século XIX. Em seguida, a economia mundial sofreu mudanças estruturais geradas pela industrialização idealizada no início do século XX por Henry Ford, nos Estados Unidos. A terceira revolução aconteceu com a automação dos processos, em 1969, e hoje vivemos uma quarta fase, tecnicamente batizada de 4.0, que teve início na Alemanha, em 2010.

Rubens Kiso apresentou sua palestra no II Workshop de Gestão Empresarial “O Papel do RH na Crise”, realizado na Pousada do Quilombo, em São Bento do Sapucaí – SP, com a presença de 60 profissionais da área de recursos humanos representando multinacionais estabelecidas na região do Vale do Paraíba.

“Com a migração dos processos industriais para o universo cibertnético, o que veremos a partir de agora será uma interação muito mais completa entre o homem e a máquina, que vai mudar a forma de atendermos às demandas industriais”, explicou o especialista. Entre os benefícios da nova era, ele enumerou a redução de custos, a conservação ambiental, a economia da energia, com o fim do desperdício, a redução de erros e a personalização de produtos e serviços em uma escala sem precedentes.

Por meio do conceito IoT (Internet das coisas, na sigla em inglês de Internet of Things), tudo estará conectado, desde os ambientes privados até os comerciais ou industriais, passando pelo setor de logística, distribuição e transportes. Rubens Kiso aponta para uma inversão na ordem da oferta e demanda: “na prática, estamos falando de interoperabilidade, virtualização e orientação a serviços: hoje em dia, já não é mais a indústria que desenvolve produtos para o consumidor comprar, mas sim o consumidor é que demanda a produção para a indústria suprir”.

De acordo com estatísticas da McKinsey, a Revolução 4.0 deve reduzir o consumo de energia em 20% e os custos com mão de obra em 25%, aumentando a produtividade em 30%, não apenas com a conexão entre homens e máquinas – e máquinas com máquinas – mas também com a robotização dos processos. Espera-se que os robôs consigam reduzir os custos operacionais das empresas em 5%, com impacto econômico global da ordem de US$ 2,3 bilhões.

A tecnologia não “pode” ocupar, ela “vai” ocupar o ambiente industrial

Rubens Kiso reconhece que o viés negativo da revolução, obviamente, são as condições de empregabilidade: “mundialmente, 60 milhões de postos serão substituídos na indústria, algo que pode ser catastrófico, no entanto pode ser extremamente necessário, uma vez que a população global vem envelhecendo a passos largos, especialmente na Europa, mas também nos países em desenvolvimento”. No Brasil a expectativa de vida já aumentou recentemente de 72 para 75 anos, o que nos leva a esperar que logo vá faltar mão de obra.

Até 2001, existiam 756 mil robôs no mundo, principalmente (e quase exclusivamente) concentrados no Japão e na Alemanha. Em 2013, com a quantidade mundial de robôs ultrapassando os milhões, o Brasil possuía apenas 16 mil unidades, 80% das quais inseridas na indústria automobilística (a fábrica da Nissan, no Brasil, hoje tem 70% da linha de produção totalmente robotizada). Hoje, a população mundial de robôs cresce 74% por ano (em 1980 eram 45% ao ano).

Mercado consumidor x mão de obra disponível

Algumas décadas atrás, a Europa apostou em um processo de desindustrialização, passando a produção física de insumos para países cuja mão de obra era mais barata, como a China. Hoje, porém, a China também passa por uma mudança estrutural, numa iniciativa de criar mercado interno e desenvolver, junto com a Índia, um mercado autossuficiente. Com isso, a Europa – assim como países que seguiram a mesma tendência de terceirização da indústria – foi levada a retomar as suas indústrias. Com uma população economicamente insuficiente para assumir a produção, a robotização no continente europeu foi extremamente necessária.

No Brasil, estamos bastante atrasados com relação à robotização, embora haja incentivos vindo da própria Alemanha para modernização, treinamento e, em alguns casos, injeção de capital. Dos 133 países considerados “relevantes”, estamos em 121º em tecnologia, um dos mais atrasados no planeta. Kiso lamenta que tenhamos deixado de investir em pesquisas, o que gerou grande sofrimento às indústrias, que tiveram sua competitividade ameaçada pela falta de mão de obra especializada: “Na gestão de Lula, o governo afirmava que o Brasil seria ‘um grande celeiro do mundo’, o que não aconteceu o que não aconteceu: desenvolvemos a área agrícola, na qual não se consegue gerar mão de obra, tiraram os incentivos das indústrias e, sobretudo, os de pesquisa”.

Como resultado, Kiso aponta que as nossas industrias sucatearam: “não produzimos mais quase nada, todo o nosso lucro, desde o nosso pãozinho, que leva trigo importado, é levado para fora do país”, diz, referindo-se às multinacionais que contratam no Brasil, pagam seus impostos, porém enviam os lucros para as suas matrizes.

O reflexo sobre a mão de obra

“A mão de obra humana é a parte mais cara de toda empresa. Ao trocarmos essa mão de obra, substituindo-a por robôs, teremos um quadro que trabalha 24 horas por dia sem greve, sem sindicato ou processos – e as indústrias estão prestando atenção a isso”, alerta o especialista.

Para onde vão os empregos? Ao aumentar a sua produção sem gerar novos empregos, o novo cenário certamente deve prejudicar os países em desenvolvimento. Com essa preocupação, Rubens Kiso afirma que devemos mergulhar em uma área da inteligência, com a necessidade de desenvolver não apenas a tecnologia, mas também as pesquisas e a educação especializada, da qual a primeira depende intrinsecamente.

Temos uma geração extremamente imediatista, os recursos naturais em colapso e alterações climáticas, e a Revolução 4.0 pode ser vista não apenas como uma ameaça aos empregos, mas um alerta para alterarmos a forma como enxergaremos o mercado de trabalho daqui por diante. “Há uma quantidade imensurável de postos de trabalho sendo gerados no campo da tecnologia que os profissionais disponíveis não conseguem ocupar por falta de capacitação”, conclui.

Previsões para um futuro breve

Rubens Kiso enxerga para um futuro próximo o avanço da robótica, o transporte autônomo, a inteligência artificial e a intensificação do aprendizado para manutenção em robótica, com o uso de materiais avançados, biotecnologia e genômica – robôs injetados no corpo humano para cura de doenças.

Claro que há preocupações quanto à privacidade, ética – o quanto as esferas públicas adquirem conhecimento sobre as atividades privadas do ser humano. Além da preocupação primordial, que será a crise dos empregos: espera-se que 4.759.000 cargos sejam perdidos na próxima década em escritórios administrativos. Porém a notícia pode não ser tão catastrófica assim.

Para a próxima geração, espera-se que os profissionais busquem empregos flexíveis, tecnologias disponíveis, uma vasta gama benéficos, em vez de grandes salários, cultura de utilização de equipamentos pessoais “bring your own device”, uso de dispositivos móveis, colaboração, telepresença, trabalho remoto, sistema de home office, IoT, plataformas virtuais para reunir pessoas, processos, dados e coisas, além de colaboradores que acessam a rede corporativa por meio de seus próprios computadores – e de qualquer lugar. Com grande velocidade de implementação e aceitação de novas tecnologias, as empresas poderão contratar profissionais de qualquer lugar do mundo, criando assim uma nova rede de talentos sem fronteiras.

Entre as qualificações desses novos profissionais, estarão: resolução de problemas, pensamento crítico, criatividade, gestão de pessoas, coordenação de equipes, inteligência emocional, tomada de decisão e julgamento, orientação de serviço, negociação e flexibilidade cognitiva. E esta era já começou. Estamos preparados? Cleci Leão – Brasil in “Guia Marítimo”

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