Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 27 de agosto de 2016

Angola - Partidos políticos portugueses no VII Congresso do MPLA: ideologias ou interesses?

Muito se falou e ainda se fala sobre este facto. No meu ponto de vista as questões ideológicas da equação, nas relações Angola Portugal, no plano partidário, há muito se perderam, especialmente, com a queda do Muro de Berlim. Aliás, em África – podemos visualizá-lo agora melhor – essas questões só serviam para encobrir a defesa de interesses geo-estratégicos.

Neste âmbito, achei completamente sem sentido e mesmo lamentáveis as declarações que se atribuem ao representante do Partido Comunista Português (PCP), que o expuseram como imaturo ou ignorante, já que o oportunismo, numa vertente tão descarada, não costuma caracterizar tanto o PCP. Entendo que o PCP possa invocar razões de soberania, como o tem feito, no caso da rejeição de projectos parlamentares do Bloco de Esquerda (BE), de condenação à repressão contra as liberdades em Angola, mesmo quando inclua vítimas luso-angolanas. Na mesma medida não posso entender que o PCP destrate, com invocações passadistas, um partido político angolano – a UNITA – agora apenas adversário político do MPLA, depois de se ter estabelecido um pacto que constitui a trave mestra daquilo por que o povo angolano – e por contaminação, o povo português, tendo em conta os laços – aspirou durante tantos anos – o silêncio das armas. Ideologias não salvam vidas nem estabilizam estados, particularmente, em África.

De resto, equivocam-se os que falam da aproximação ideológica do MPLA de hoje, mesmo com os partidos comunistas de Cuba, China ou Coreia do Norte, muito menos com partidos comunistas, socialistas e social-democratas europeus. A vida ensina-nos, hoje por hoje, que vale o que se faz e não o que se escreve ou se diz. O MPLA, hoje, não tem outra ideologia que não a de submeter-se a José Eduardo dos Santos, apoiá-lo a troco de alguns favores, para deixá-lo apossar-se, à vontade, de enormes recursos do país e manter o poder definitivamente, com o apoio do exterior, que se defende com a falácia do respeito à soberania, onde o interesse de indivíduos é confundido com os interesses públicos.

Neste âmbito, na sequência de um certo descaramento que Paulo Portas (PP) vem imprimindo às práticas do CDS, em relação a Angola, as declarações do deputado luso-angolano Hélder Amaral não ultrapassaram quaisquer limites. Na verdade o que houve foi certa franqueza na declaração da ideia da necessidade de participação na espoliação do povo angolano, que não tem nem tribunal nem parlamento que se debruce sobre abusos contra si, porque foi proibida a “judiciarizção” da lavagem do dinheiro angolano em Portugal (segundo PP), enquanto em Angola a Assembleia Nacional não pode criar comissões de inquérito contra práticas irregulares do executivo e de parentes do Presidente.
Difícil corrigir os erros da colonização/descolonização a favor dos dois povos, porque gerações sucessivas de líderes oportunistas ou apenas sem visão vão puxando a brasa para a sua estreita sardinha, em Angola e em Portugal.

Não há mal nenhum que partidos de um e de outro lado se convidem mutuamente para determinados eventos. Mas é fácil intuir o motivo do destaque que se deu aos partidos portugueses no VII Congresso do MPLA: salvar a imagem afundada do líder incontestável, impressionando os angolanos que deverão continuar a pensar que eternizar-se no poder para enriquecer, de tal monta, a família e amigos, dentro e fora do país, traz um enorme prestígio, pelo menos, na nossa antiga metrópole. Marcolino Moco - Angola

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