Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 8 de outubro de 2016

Macau - Fórum quer “mais participação” de privados

A secretária-geral do Secretariado Permanente do Fórum Macau entende que para que a cooperação entre a China e os países lusófonos cresça da melhor forma é necessária a intervenção de instituições privadas, nomeadamente bancos e outras entidades financeiras. Vicente de Jesus Manuel partilha da mesma opinião, acrescentando que o facto de os países decidirem em conjunto os projectos mais viáveis para serem financiados poderá minimizar o endividamento

A implementação da estratégia “Uma Faixa, Uma Rota” no plano de investimentos do fundo associado ao Fórum Macau e a avaliação da capacidade produtiva de cada país “é uma alternativa para minimizar os endividamentos porque os países vão identificar, em conjunto, os projectos [mais viáveis] e os meios de financiamento da sua exploração. Se uma das partes achar que tem capacidade para financiar, pode fazê-lo através de investimento directo”, frisou o secretário-geral adjunto do Secretariado Permanente do Fórum Macau.

Vicente de Jesus Manuel entende que, deste modo, “haverá maior fluxo e maior empreendedorismo por parte do sector empresarial”. Além disso, existe a Banca que deverá “desempenhar um papel essencial enquanto instituição financeira”.

A secretária-geral do Secretariado Permanente do Fórum disse estar de acordo salientando que a cooperação entre a China e os países lusófonos tem de funcionar dependendo das regras do mercado e numa base comercial. Assim, defendeu Xu Yingzhen, “se queremos que a cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa se desenvolva de forma mais sustentável é preciso mais participação do sector privado, tanto do sector financeiro como das empresas”.

Xu Yingzhen mostrou-se optimista, referindo que “as instituições financeiras têm um interesse cada vez maior” na cooperação entre o Continente e a lusofonia. “O Banco da China, o Banco do Comércio e da Indústria e o Banco de Construção já têm sucursal no Brasil. Além disso, tenho de mencionar que o Banco de Desenvolvimento da China já tem uma sucursal no Brasil, através da compra de um banco local”. O Banco da China irá em breve abrir uma dependência em Angola.

Mas o contrário também acontece. “Os bancos dos países lusófonos já têm sucursais na China. O Banco do Brasil tem uma sucursal em Xangai e é o primeiro banco latino-americano a ter representação na China”, exemplificou.

A questão do envolvimento dos privados vai estar no centro do debate durante a 5ª Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) que Xu Yingzhen espera que venha a “intensificar ainda mais a cooperação”. “Recordo que o tema deste fórum é ‘rumo à consolidação das relações económicas e comerciais entre a China e os países de língua portuguesa’. Os conceitos da estratégia ‘Uma Faixa, Uma Rota’ que vamos assimilar nesta conferência também podem ser um ponto atractivo”.

Nas quatro conferências anteriores houve “êxitos muito grandes”, destacou a secretária-geral. “Conseguimos um crescimento muito rápido do comércio entre a China e os países lusófonos porque no fim de 2013 o comércio bilateral representava 11.000 milhões de dólares e actualmente já se cifra em 132.600 milhões. No ano passado sofremos uma redução de 9,850 milhões de dólares, ainda assim, em comparação com o ano em que estabelecemos este Fórum, o crescimento foi bastante notável”, salientou.

Há hoje cerca de 400 empresas chinesas com presença nos países lusófonos, como é o caso do Banco da China, apontou Xu Yingzhen. Ao mesmo tempo, a mesma responsável frisou que desde a primeira Conferência “ampliou-se muito o âmbito da cooperação (...) porque na primeira Conferência os ministros acordaram desenvolver sete áreas e na última os campos de cooperação diversificaram-se, já eram 17”.

Apesar de as trocas comerciais nunca terem alcançado a meta dos 160.000 milhões de dólares que tinha ficado defina no último Plano de Acção, a secretária-geral do Fórum mostra-se optimista, apontando como principal motivo “o ambiente do comércio internacional” que “está em baixa, e o preço dos produtos que está a baixar muito”. “Tenho muita esperança que o comércio se possa reactivar com o melhoramento do ambiente do comércio internacional”, referiu, acrescentando que “o mercado existe sempre e as trocas comerciais já têm uma base muito sólida”. “As empresas da China têm contactos muito estáveis com os países de língua portuguesa. Assim que melhore o ambiente do comércio internacional, comércio bilateral vai reactivar-se e recuperar a tendência de crescimento”.  

Brasil com “muitas potencialidades”

Ao nível do investimento, Xu Yingzhen acredita que o Brasil “pode ser um país com muitas potencialidades” o que não significa “que as empresas chinesas não vão olhar para outros países”.

No que respeita aos empréstimos, o montante de 1.800 milhões de renminbis outorgado na última Conferência Ministerial “já foi concedido totalmente”. “A China cumpriu os compromissos”, sublinhou a mesma responsável. Este apoio foi destinado sobretudo aos países africanos e a Timor-Leste.

Vicente de Jesus Manuel garantiu que os projectos que recebem apoio são discutidos a nível bilateral, apresentando alguns exemplos de planos que obtiveram financiamento. “Em Moçambique temos o Instituto Confúcio, temos o centro de formação técnico-profissional em Angola, o Centro de distribuição de energia hidráulica. (...) Em Timor-Leste já foi financiada uma escola e, no caso da Guiné-Bissau temos o centro de saúde”.

Neste momento há três projectos em processo de aprovação de financiamento e em reserva, num banco de dados, estão cerca de 20 projectos para análise futura. Xu Yingzhen não conseguiu dar dados concretos sobre os três projectos actualmente em análise, limitando-se a afirmar que não é possível afirmar “com segurança, que eles venham a ser aprovados”.

Ao nível de áreas de investimento, as infra-estruturas, a indústria manufactureira e a cooperação agrícola tendem a ter prioridade.

No que respeita às dúvidas apresentadas pelas Pequenas e Médias Empresas (PME) que pretendem candidatar-se aos apoios, que precisam normalmente de ir a Pequim entregar documentação, Jackson Chang, presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), garantiu que “no futuro, as PME poderão entregar os documentos ao IPIM e depois eles serão direccionados”.

Além disso, Jackson Chang disse esperar que um dia “o Banco de Desenvolvimento da China possa criar um gabinete em Macau para ajudar os empresários a fazer a candidatura ao fundo”. Inês Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

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