Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 31 de dezembro de 2016

Macau – China e São Tomé e Príncipe restabelecem relações diplomáticas

Pequim restabeleceu na passada segunda-feira, 26 de Dezembro de 2016, relações diplomáticas com São Tomé e Príncipe, após este país ter cortado os laços com Taiwan, reconhecendo o princípio de “Uma Só China”. Num comunicado de oito parágrafos, o Governo de São Tomé e Príncipe referiu a “conjuntura internacional e a sua perspectiva de evolução, tendo em conta a agenda de transformação do país e os objectivos de desenvolvimento do milénio” como motivos para a ruptura com Taiwan.

O Executivo do Primeiro-ministro Patrice Trovoada sublinhou, por outro lado, que a evolução da conjuntura interna e a política do seu Governo “impõem a defesa dos interesses genuínos de São Tomé e Príncipe e do seu povo”, apesar de “não abdicar dos valores cardinais da sua política externa e o reforço da sua adesão ao princípio da não-ingerência nos assuntos internos de outros Estados”.

“As tensões prevalecentes no plano internacional, a multipolarização dos centros de decisão, bem como a defesa cada vez mais aguerrida dos interesses nacionalistas por parte dos principais actores da cena internacional em detrimento do multilateralismo, opção de longe mais favorável à expressão dos pequenos Estados” foram também sublinhadas pelo Governo são-tomense.

O Governo chinês considerou “natural” a decisão de São Tomé e Príncipe de cortar relações diplomáticas com Taiwan e reconhecer a República Popular da China. “É natural. Quando se reconhece e decide finalmente que é a altura de fazer a escolha certa, esse é o momento” disse a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying. “A China agradece e dá as boas vindas ao regresso de São Tomé e Príncipe ao lado certo do princípio ‘Uma só China’”, disse a mesma responsável.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros de São Tomé e Príncipe, Urbino Botelho, afirmou que o seu país quer “redimir-se de erros do passado”. Além disso, disse esperar mais investimentos chineses e que mais turistas da China invistam no seu país.

O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, defendeu que o restabelecimento das relações “trará benefícios para os dois países” e que ambos “realizarão intercâmbios nos sectores do turismo, media e outros”.  

Aos olhos de alguns analistas de Macau, esta mudança é natural. “Esta reaproximação era previsível, uma vez que o objectivo das autoridades de São Tomé e Príncipe é, obviamente, conseguir os apoios necessários para desenvolver o país”, frisou José Luís Sales Marques em declarações ao Jornal Tribuna de Macau. “Sabemos das dificuldades que São Tomé e Príncipe tem. É um país que precisa de ajuda externa, de investimento estrangeiro e, embora a China não tivesse relações diplomáticas com o país, tem lá investimentos”.

Nesse sentido, reforça Sales Marques, a reaproximação surge na sequência de “circunstâncias que apontam para uma presença relativamente importante da China, do ponto de vista comercial em São Tomé e Príncipe”. “As relações entre os Estados não são as relações entre pessoas, o que quer dizer que são baseadas sobretudo em interesses comuns e compatíveis”, acrescentou o presidente do Instituto de Estudos Europeus, ressalvando que a União Europeia tende a ter um entendimento diferente.  

“Há um conjunto de circunstâncias económicas, não só comerciais” a ter em conta, refere Sales Marques, apontando que São Tomé e Príncipe “está muito na cauda do que se podem chamar os índices de desenvolvimento, por isso, precisa de crescer e que a sua economia se diversifique, se calhar, já que recentemente vi num documentário que 90% das receitas das exportações provêm do caju”.   

Por seu turno, Arnaldo Gonçalves defende que a reaproximação resulta de “uma reavaliação que os países fazem em relação ao seu alinhamento internacional”. Tendo em conta que era o último país africano de língua portuguesa que não reconhecia a China, São Tomé e Príncipe “perdia alguma interface em termos das políticas da organização”, salientou o professor de Ciência Política e Relações Internacionais.

Assim, considera, esta é apenas uma “avaliação de oportunidades diferentes e que resultou noutro tipo de alinhamento”. São Tomé e Príncipe depende de “investimento externo” e “se calhar há oportunidades para investimento chinês”. “Desde que politicamente não vá condenar Taiwan em termos das suas opções internacionais, acho que não há nenhuma razão para ser criticável”, sublinhou Arnaldo Gonçalves.

Já Rita Santos vê com bons olhos a decisão de São Tomé e Príncipe de respeitar o princípio “uma única China” já que “é bom haver um respeito mútuo entre os países que poderá contribuir para outros desenvolvimentos no âmbito da amizade, da cultura e da economia”. A antiga secretária-geral adjunta do Fórum Macau destaca também como ponto positivo o facto de haver “novas oportunidades de desenvolvimento”, o que é benéfico para os empresários da RAEM.

“Família completa” no Fórum Macau

Perante esta reaproximação do Estado africano à China, Rita Santos considera que “não seria correcto” se o país não passasse a integrar o Fórum Macau. “Para completar o conjunto dos nossos irmãos dos países de língua portuguesa faltava só São Tomé e Príncipe. Agora temos uma família completa”, frisou em declarações ao Jornal Tribuna de Macau

“Tenho a certeza que rapidamente São Tomé e Príncipe vai fazer parte do Secretariado Permanente do Fórum Macau, o que é bom, porque temos na RAEM um grupo de pessoas que ajuda a estreitar ainda mais as relações económicas, comerciais e, principalmente, culturais entre São Tomé e Príncipe, Macau, e a China”, defendeu Rita Santos.

Actualmente é preciso ver como a RAEM pode funcionar enquanto plataforma, com o objectivo de “mostrar na China a cultura” do país africano. “Também temos jovens de São Tomé e Príncipe a estudar em Macau que podem contribuir para estreitar cada vez mais os laços de amizade e de cooperação económica e cultural”, indicou a antiga secretária-geral adjunta do Fórum Macau.

José Luís Sales Marques também acredita que a relação diplomática entre a China e o Estado africano “é uma boa notícia” para o Fórum Macau que, por outro lado, “proporciona um excelente enquadramento a São Tomé e Príncipe”. “É uma grande oportunidade”, defendeu, acrescentando que o Fórum “fornece oportunidades de investimento, de formação, de relações entre pessoas, de que São Tomé e Príncipe pode beneficiar se puder participar”.

Apesar disso, o presidente do Instituto de Estudos Europeus ressalva que, mesmo sem a integração no Fórum Macau, tem havido “alguma abertura”, uma vez que São Tomé e Príncipe já foi convidado “para assistir à cimeira do Fórum em algumas ocasiões”.

Por sua vez, Arnaldo Gonçalves desvaloriza o impacto desta decisão no eventual ingresso do país no Fórum Macau. “São Tomé e Príncipe estava numa posição de quase entrada, mas não me parece que haja um reforço do Fórum pelo facto de entrar. O Fórum é uma plataforma de contacto e diálogo da China com vários países, mais nada. Ele [Fórum] não faz negócios, só facilita contactos”. Inês Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau” com Lusa

Sem comentários:

Enviar um comentário