Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Macau – Universidade da Cidade de Macau aposta no estudo dos países lusófonos

No próximo ano lectivo, a Universidade da Cidade de Macau (UCM) vai abrir duas turmas de Mestrado e uma de Doutoramento em Estudos dos Países de Língua Portuguesa. Para Ivo Carneiro de Sousa, coordenador dos cursos, Macau é o “melhor laboratório” para desenvolver “estudos de área” sobre os países lusófonos, pelo que já está a ser pensada a abertura de uma licenciatura neste campo em 2018/2019 e um pós Doutoramento em 2020


A Universidade da Cidade de Macau (UCM) vai abrir em Setembro um curso de Mestrado e Doutoramento em Estudos dos Países de Língua Portuguesa, iniciativa pioneira à escala mundial que visa desenvolver os países de língua portuguesa no domínio dos “estudos de área” por “partilharem a mesma língua oficial e por se relacionarem em termos internacionais usando essa unidade da língua”, explicou o coordenador dos cursos, Ivo Carneiro de Sousa, ao Jornal Tribuna de Macau.

“O argumento que temos utilizado é que, academicamente, trata-se de uma area studies e queremos desenvolver a investigação desta área utilizando o equipamento normal, isto é, o conjunto das ciências sociais para estudar, comparar, contrastar os países, os temas e problemas que existem nesses países com essa instrumentação”, explicou o docente.

“Acreditamos que Macau tem condições históricas e prosperidade financeira para poder permitir esses estudos e tem o lado importante de não haver ressabiamentos”, disse. Em termos práticos, Ivo Carneiro de Sousa aponta dois argumentos que validam o tratamento dos países de língua portuguesa enquanto matéria com interesse académico, sobretudo na RAEM. “Macau é o melhor laboratório para se investigar sobre isto porque tem uma história de relações com o mundo todo até meados do século XIX”, além de oferecer “condições privilegiadas históricas para desenvolver investigação académica sem ter problemas de ressabiamentos coloniais ou pós-coloniais” e ser plataforma entre as duas partes.

“O objectivo destes cursos consiste na publicação da investigação nos melhores jornais académicos em inglês” até porque, “se não se publicar nestas grandes revistas o que se está a investigar não existe como ciência”, vincou o docente.

Os cursos são veiculados em inglês e os alunos que “não são de língua portuguesa têm de completar dois anos de Português, para aprender os termos necessários para ler documentos técnicos” nessa língua, apontou. No caso do Doutoramento, a UCM vai “facultar uma ida de três meses a qualquer país de língua portuguesa que [o aluno] esteja a estudar para que haja realmente trabalho de campo”.

Esse trabalho de campo será apoiado através de bolsa, ao fim de dois anos e meio de estudos teóricos. “Têm de estar preparados para ir ao terreno para investigar. Isto está a ser feito através de acordos com universidade e institutos que possam receber os alunos”, acrescentou.

Devido à grande adesão, será necessário abrir duas turmas (20 alunos cada) de Mestrado e uma de Doutoramento no máximo com 20 estudantes até porque não há “condições de supervisão” para mais. “Até agora já entregámos a resposta a 14 alunos de doutoramento e a 27 para o Mestrado”, adiantou, revelando ainda que até Junho estão agendadas mais entrevistas em Zhuhai. “O número de candidatos é cinco vezes a oferta que temos”, sublinhou.

Na sua grande maioria, os candidatos são “assistentes em universidades chinesas”. “Percebemos pelas entrevistas que estes candidatos procuram fazer um doutoramento fora da China aproveitando o facto de ser mais barato estudar em Macau do que em Hong Kong (...) e, em segundo lugar, o acesso a todas as fontes e sites, o que em Ciências Sociais é muito importante”, disse.

Por outro lado, “também há candidatos locais, incluindo de diferentes países de língua portuguesa”, embora 60% dos seleccionados sejam chineses do Continente. “Temos entrevistado, por Skype, candidatos de Angola e Moçambique mas só vamos decidir quando terminarmoso processo de entrevistar os locais”.

O corpo docente será constituído por pessoal local e convidado. “Vamos ter um professor de Timor-Leste, que por acaso é actualmente o Ministro da Economia, dois de Moçambique, um de Brasília e do Rio de Janeiro, um de Angola e dois de Portugal”, disse.

Licenciatura é o próximo passo

Uma das razões pelas quais a UCM está a apostar nesta abordagem académica prende-se muito com o facto de “não haver investigação científica” neste campo em termos institucionais. “Macau é oficialmente uma plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Para nós, em termos científicos, existem ‘muitos menos’ nessa ideia de plataforma. Há coisas estranhas: Como é que as indústrias do jogo - que ‘pagam’ Macau - não são mobilizadas para a plataforma quando há mais de 200 portugueses que são directores de recursos humanos, engenharia, segurança, entre outros?”, questionou Ivo Carneiro de Sousa.

Nestes moldes, e também para criar uma “base” que suporte estes cursos de Mestrado e Doutoramento, a Universidade da Cidade de Macau vai abrir, no ano lectivo 2018/2019, uma licenciatura para garantir que há “alunos locais comprometidos” com esta área. “É preciso porque, caso contrário, os cursos serão dominados pelos alunos da China Continental que sabem o que querem e que vão fazer carreira nesta área. É preciso alimentar Macau, as empresas, o Governo, centros de investigação, entre outros”, revelou o docente.

Segundo explicou, a licenciatura será em Relações Internacionais mas com especialização nos Países de Língua Portuguesa e a sua relação com a China. “Os alunos têm de estudar a história desses países, a diplomacia, relações políticas e estratégicas desses países”, contou. Posteriormente, os melhores alunos serão canalizados para o Mestrado. Nesta estratégica, em 2020, deverá abrir um Pós-Doutoramento na mesma área, revelou Ivo Carneiro de Sousa.

Esta aposta, que começa com Mestrado e Doutoramento, tem como finalidade “convencer o sistema científico global - revistas, universidades e centros de investigação - que o estudo dos países de língua portuguesa é um domínio tão académico como o da lusofonia”, vincou.

Os dois cursos forsm apresentados ontem no campus da UM, na Taipa, num dia em que também se celebrou África. Catarina Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

Sem comentários:

Enviar um comentário