Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Lançamento do livro “Uma Biblioteca contra o Inferno”

Em 1941, a Europa e Portugal viviam um dos períodos mais negros da sua história, a primeira envolvida numa guerra que matará milhões de pessoas e deixará um rasto de destruição sem paralelo e o segundo mergulhado na longa noite do fascismo de onde só emergirá a 25 de Abril de 1974.

Nesse mesmo ano, Bento de Jesus Caraça, então professor de matemática e conhecido intelectual com ligações ao PCP, fundava a Biblioteca Cosmos, uma colecção de divulgação cultural e científica sem paralelo no país. Com um milhão de exemplares vendidos entre 1941 e 1948, num país em que a taxa de analfabetismo rondava os 70%, a Biblioteca Cosmos será uma resposta possível ao inferno que então se vivia.

O lançamento do livro “Uma Biblioteca contra o Inferno” da autoria de João Oliveira Duarte será no dia 04 de Setembro, pelas 19H, no Espaço Cultural Cinema Europa, em Campo de Ourique, Lisboa. A apresentação contará com a presença do Dr. Carvalho da Silva, antigo dirigente da CGTP. “Ego Editora”

"Há quem acredite (...) que ainda existem intelectuais e que os livros ainda podem mudar o que quer que seja (...). Acho que quem acredita nisso se encontra verdadeiramente equivocado."

João Oliveira Duarte vai lançar no próximo dia 04 de Setembro em Campo de Ourique o livro "Uma Biblioteca contra o Inferno", no qual descreve o extraordinário legado de Bento de Jesus Caraça, intelectual pouco conhecido da maioria dos portugueses, mas cujo trabalho foi bastante relevante nos tempos obscuros do Estado Novo.

Estivemos à conversa com o autor para percebermos melhor quem é e o que o move no mundo da literatura.

1 - Para quem não o conhece, quem é o João Oliveira Duarte?

Nasci em Lisboa, estudei Direito durante alguns anos mas acabei por fazer o curso de filosofia na Universidade de Lisboa. De momento, estou a fazer o doutoramento em História de Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.

2 - Sempre teve a ambição de publicar um livro, neste caso, um ensaio?

Nunca tive ambição de publicar o que quer que seja. O pouco que fui publicando aqui e ali deveu-se a obrigações académicas – hoje só sobrevive na academia quem obedecer a critérios nada inteligentes de produtividade – ou então a pequenos gostos de origem inconfessável.

3 – O que o levou a escrever sobre o Bento de Jesus Caraça?

É uma história algo comprida, que começa com uns textos para uma revista literária da qual não tenho especial orgulho – fui director-adjunto enquanto durou e felizmente durou pouco. Depois de acabar a revista, perguntaram-me se não queria aprofundar aqueles pequenos textos que nunca chegaram a ser publicados.

4 – Qual o impacto que acha que este livro poderá ter na sociedade portuguesa?

Há uma pequena conversa entre Michel Foucault e Gilles Deleuze em que o eclipse da figura do intelectual é desenhada e as suas consequências retiradas. Esta figura, que começa com Zola e o caso Dreyfus, no século XIX, e que acaba com Jean-Paul Sartre em 1980, faz parte de uma “atmosfera”, chamemos-lhe assim, em que os livros ainda tinham alguma forma de impacto, mesmo que fosse, muitas vezes, de forma equivocada. Parece-me que com o fim da figura do intelectual, a possibilidade desse impacto desapareceu. Há quem acredite no contrário, que ainda existem intelectuais e que os livros ainda podem mudar o que quer que seja – jornalistas, acima de tudo, cheios de boa vontade. Acho que quem acredita nisso se encontra verdadeiramente equivocado.

5 – Qual a sua ambição literária, até onde se imagina ir?

Não tenho nem nunca tive qualquer tipo de ambição literária. Mas acho interessante a sobrevivência de umas certas características da “função autor”.

6 – Que autores o inspiram?

Num trabalho como este a inspiração não tem lugar. A filosofia, a crítica e o ensaio, contrariamente à literatura e à arte, não têm nem nunca tiveram musas. Chegam sempre depois, após estas terem abandonado o local do crime. Mas há “diálogos”, apesar de não gostar muito desta palavra. Neste texto em concreto, é inegável a presença de Michel Foucault e de Jorge Luis Borges, num primeiro momento, um conjunto de autores (Schiller e Marx, por exemplo) em que a questão da antiguidade é colocada e, por último, uma peça atribuída a Ésquilo. Acima de tudo, e descontando a óbvia presença dos escritos de Bento de Jesus Caraça, tentei que diversos textos interviessem de forma local ao longo do livro, convocados por questões precisas.

7 – Tem planos para próximos títulos?

Havia o plano de publicar uma versão modificada da tese de mestrado. Mas como é um texto já antigo onde, apesar de concordar ainda com as teses gerais, há um certo tom e estilo no qual já não me revejo, terei de decidir se está publicável ou não. Isto, acrescido do facto de se publicar demasiado em Portugal, deixa-me, no mínimo, relutante. "Ego Editora"

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