Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

China - Sabores da terra de “Camões” persistem em Pequim

Chegou à capital chinesa há sete anos e foi ficando. Paulo Quaresma é agora responsável pelas cozinhas do hotel Legendale e do restaurante “Camões”. À Tribuna salienta que os ricos azulejos azuis atraem a atenção do público chinês, mas também nota que é difícil manter um restaurante português aberto



É numa das alas do hotel Legendale, perto de Wanfujing, em Pequim, que se encontra o restaurante “Camões”. Passando pela árvore de Natal de dimensões consideráveis no hall de entrada, rapidamente se trocam os tons dourados pelos azuis dos azulejos e decoração a condizer.

Criado em 2009, o espaço é uma ode aos azulejos portugueses, ao poeta que lhe empresta o nome, a algumas frases pintadas nas paredes e a outros ícones da cultura portuguesa, como a guitarra. Nas escadas por detrás do balcão, há ainda espaço para as Ruínas de São Paulo, de uma Macau recuada no passado.

Há sete anos em Pequim, Paulo Quaresma é agora o “chef” do “Camões” e de toda a área de restauração do Legendale, à excepção do restaurante chinês. “Trabalhava em Portugal, mas as coisas não estavam famosas e pensei que se aparecesse uma boa oportunidade no estrangeiro, iria para aquela que oferecesse algo concreto”, começou por contar à Tribuna.

A resposta chegou e foi para o “Camões”. “A princípio pensei que fosse para Macau, mas com o desenrolar da conversa percebi que era para o centro de Pequim”, afirmou, acrescentando que viajou sem expectativas e foi ficando.

“Como passei muito tempo com os chefes, agora fazem tudo bem sozinhos. Venho todos os dias ao restaurante, mas eles dão conta do recado. Nos menus ou convidados especiais é que poderei ter um papel maior” referiu.

Segundo recorda, “o hotel foi desenvolvido para os Jogos Olímpicos de 2008 e a ideia de David Chow era dar a conhecer parte da cultura portuguesa ao povo chinês e também oferecer algo diferente”. “Poucas pessoas conhecem comida portuguesa, portanto, seria mais uma oferta de pratos internacionais e ocidentais para os convidados e hóspedes do hotel”.

No entanto, admite ser “muito difícil para um restaurante português sobreviver estes anos todos, sem estar inserido numa estrutura como um hotel, e mesmo em hotel seria difícil sem David Chow”. O Hotel Hilton chegou a ter outro chefe português que, no entanto, já cessou funções.

Entre as dificuldades sentidas na operação de um espaço de restauração português, salienta a falta de produtos, como enchidos e carne de porco que não estão certificados. Tal facto complica a execução e autenticidade de alguns pratos.

Paulo Quaresma admite que poderia fazer outros pratos como açordas, mas não seriam atractivos para os clientes. Aliás, mesmo no caso do bacalhau, é necessário por vezes explicar aos clientes que é diferente do peixe fresco a que estão habituados. “Muitas vezes tenho de explicar que faz parte da nossa cultura gastronómica e que não tem nada de errado”, conta.

O arroz de marisco e o de pato são os favoritos, porque estão próximos dos gostos chineses, mas também há quem arrisque o presunto Pata Negra e leitão assado.

Quanto à decoração, adianta que os chineses gostam de tirar fotografias, porque acham curioso que os azulejos sejam parecidos com as pinturas dos seus vasos.

Olhando para a cidade em si, Paulo Quaresma realça que, quando chegou em 2010, as principais mudanças já se tinham dado com os Jogos Olímpicos. “Mesmo assim, vemos muitas zonas destruídas e reconstruídas, muitos arranha-céus, hotéis de cinco estrelas, edifícios de escritórios. Vemos muitas mudanças físicas, destruição de hutongs e reconstrução. Também há mudanças na parte cultural”, destacou.

O choque inicial desapareceu e agora,casado com uma mulher local e dois filhos, pensa em voltar a Portugal, mas admite que estará sempre dividido entre os dois países.

“Também aprendi muito cá. Recordo-me quando era pequeno apenas sabíamos que era um país fechado, não se prestava muita atenção, mas quando chegamos e vemos a realidade, vamos gostando e ficando. Está a ser positivo”, disse.

A seu ver, como há falta de contacto, a China continua a ser um “bicho mau do outro lado do Mundo, sobre o qual os meios de comunicação só dizem coisas más”. Porém, acredita que essa percepção está a mudar com os turistas e investimento chinês.

Outro contributo é dado pelos muitos estudantes portugueses que chegam a Pequim. No regresso a Portugal, “vão mostrando o que é realmente estar na China, o quão diferente é do que pensam”.

Por outro lado, segundo Paulo Quaresma, os chineses têm poucas informações sobre Portugal, até porque o mercado é tão grande que é difícil fazer chegar a mensagem. No entanto, revela, “qualquer taxista conhece o Ronaldo”, além de que “Figo, Nuno Gomes e Rui Costa também são conhecidos”. Liane Ferreira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

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